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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Tipos e gravidade de entorse do tornozelo

Tendo em consideração o mecanismo da lesão é possível considerar na entorse do tornozelo o envolvimento do ligamento colateral lateral ou do ligamento colateral medial.
Uma sobrecarga em inversão coloca em tensão e em risco o ligamento colateral lateral enquanto que uma sobrecarga em eversão pode comprometer a integridade do colateral medial.
A entorse mais frequente do tornozelo, cerca de 85% de todas as entorses (Robbins e col., 1994), ocorre na sequência de um traumatismo em inversão, num momento em que o pé se encontra em flexão plantar, facto que leva a uma distensão do ligamento colateral lateral e na maior parte das vezes da sua porção anterior (ligamento talofibular). Este tipo particular de lesão representa dois terços das entorses do tornozelo em inversão (Robbins e col., 1994).
Para Konradsen (2005a) a entorse do tornozelo dá-se quando a articulação não em carga é levada a realizar movimentos combinados de inversão e flexão plantar extremos e nessa posição é sujeita a uma carga substancial, normalmente o peso do corpo, que produz um momento de força em inversão capaz de lesionar as estruturas cápsulo-ligamentares da articulação. Quando o traumatismo em inversão se dá numa altura em que a articulação talocrural se encontra em posição neutra, será o ligamento calcaneo-fibular o mais afectado (Caillet, 1979).
O traumatismo desta articulação provocado por um movimento forçado de eversão, comprometedor do ligamento colateral medial é o menos frequente, cerca de 5% do total das entorses do tornozelo (Sheth e col., 1997b; Garrick e Requa, 1989; Balduini e Tetzlaff, 1982) ainda que, normalmente, seja o de maior gravidade (Caillet, 1979). Este traumatismo é muitas vezes acompanhado de lesões ósseas, nomeadamente fracturas da tíbia por avulsão, devido ao facto desta estrutura anatómica ceder, frequentemente, antes da ruptura do robusto ligamento colateral medial ou deltoide. Por outro lado, a sindesmosis corresponde a 10% das entorses do tornozelo (Sheth e col., 1997b) e envolve o ligamento tibiofibular antero-inferior, a membrana interóssea e os ligamentos fibulares posteriores.
A gravidade da entorse é outro critério de classificação deste traumatismo. Na sua globalidade, a entorse do tornozelo apresenta severidades diversas e, apesar das várias classificações clínicas disponíveis na literatura (Alonso e col., 1998; de Bie e col., 1997; Hocutt e col., 1982), a mais comum é aquela que atribui a esta lesão três níveis de gravidade, de acordo com o estado de integridade do ligamento afectado (Mann e col., 2005; Bass, 1969). Assim, as entorses podem ser classificadas em:

Ligeiras (Grau I) quando o estiramento ou micro-traumatismo do ligamento ocorre sem perda evidente da sua continuidade, o edema é ligeiro e há pequena ou inexistente perda funcional assim como ausência de instabilidade mecânica da articulação;

Moderadas (Grau II) quando se verifica rotura macroscópica parcial das fibras ligamentares, com dor moderada, edema à volta das estruturas envolvidas, alguma perda de movimento e ligeira ou moderada instabilidade articular;

Graves (Grau III) quando se identifica rotura completa das fibras do ligamento, edema grave e hemorragia, perda da função, movimento anormal e instabilidade articular.

Esta classificação privilegia o grau de distensão dos ligamentos como ponto de referência, sendo porém óbvio que, dependendo do grau da lesão, outras estruturas, ao nível dos tecidos moles, poderão estar eventualmente afectadas face à entorse do complexo articular do tornozelo. Estamos a referir-nos tanto a estruturas de suporte como a cápsula articular e o próprio osso, como a estruturas vasculares e nervosas, essenciais ao normal funcionamento dos tecidos.
A determinação da gravidade da lesão através da avaliação do grau de laxidão ligamentar anteriormente referida, é realizada através do teste de gaveta anterior por exame manual. Deste modo, o resultado da avaliação dependerá da sensibilidade e experiência do examinador (Hollis e col., 1995) podendo por isso ocasionar discrepâncias significativas na sua classificação. Apesar disso, a combinação dos três itens, teste de gaveta anterior positivo, presença de edema e dor à palpação do ligamento apresenta uma sensibilidade de 98% e uma especificidade de 84% na identificação e classificação da entorse (Van Dijk, 2005). Subjacente a esta mesma classificação e no domínio do diagnóstico do grau de entorse, refira-se a importância de alguns elementos clarificadores da avaliação como sejam o grau de capacidade de suporte de carga expresso pelo indivíduo, o mecanismo da lesão e a estabilidade articular (Garrick e col., 1997).

 Mecanismos de entorse do tornozelo no basquetebol

A entorse dá-se quando os ligamentos são estirados, facto que ocorre mais frequentemente na sequência de um traumatismo do tornozelo quando este se encontra numa posição instável. A posição de maior instabilidade para esta articulação é, como foi já referido, a flexão plantar, sendo nesta posição que habitualmente, um movimento forçado de inversão ou eversão poderá provocar a distensão dos ligamentos.
O mecanismo da entorse é relativamente constante. A lesão ocorre, usualmente, quando o suporte do peso do corpo é feito num pé em flexão plantar e em inversão. Esta é, como já foi anteriormente referenciado, uma posição de instabilidade para a articulação talocrural, na qual há um decréscimo da superfície que suporta a carga ao nível do astrágalo levando a que os ligamentos sejam sujeitos a uma força de tracção excessiva. Wright e col.(2000) concluíram que o ângulo de flexão plantar aquando do momento de contacto na recepção ao solo, tinha maior influência na ocorrência de entorse que o ângulo de supinação, embora ressalvem o facto de outros factores poderem igualmente influenciar a ocorrência desta lesão como seja a incapacidade para posicionar adequadamente o pé previamente ao contacto com o solo.
No basquetebol, esta instabilidade ocorre sempre que os atletas executam “cortes” ou rotações, quando o jogador inicia um movimento de arranque para o cesto tal como num lançamento na passada, e ainda quando na recepção ao solo o jogador pisa o pé de outro (Sonzogni e Gross, 1993), é pisado por outro (Ellison, 1995), ou apoia-o numa superfície irregular (Liu e Jason, 1994). Outros autores expressam um entendimento semelhante ao anteriormente referido e sugerem que as recepções ao solo, nas mais diversas circunstâncias (Thonnard e col., 1996; Liu e Jason, 1994; Robbins e col., 1994), as mudanças de direcção súbitas e o apoio do pé em superfícies irregulares são as causas de entorse mais frequentes no basquetebol (Ellison, 1995; Liu e Jason, 1994; Robbins e col., 1994). Pelo facto de o basquetebol ser um jogo extremamente rápido, os jogadores estão constantemente envolvidos em abruptas acelerações, desacelerações e mudanças de direcção, particularidades que colocam um stress considerável nos membros inferiores e tornam especialmente vulneráveis as articulações dos joelhos e tornozelos (Reilly e Borrie, 1992).
Sobre esta matéria e de um modo muito objectivo, Powell (1996), refere que a maior parte das lesões dos basquetebolistas ocorre durante a “luta” por bolas perdidas (34.4%), na sequência de lesões traumáticas desencadeadas por actividades padrão controladas (27.8%) e também nos momentos da “luta” pelo ressalto (26%). A recepção ao solo sobre uma superfície irregular promovendo instabilidade ou uma brusca mudança de direcção podem resultar num exagerado momento de força levando o pé para uma posição extrema de inversão que sobrecarrega as estruturas cápsulo-ligamentares da articulação.

 Factores de risco de entorse do tornozelo

Os factores de risco da entorse podem ser classificados em factores extrínsecos e intrínsecos. Nos primeiros, incluem-se os erros no planeamento do treino, o tipo de desporto, o tempo de prática, o nível de competição, o equipamento e as condições ambientais (Baumhauer e col., 1995b). Nos segundos, incluem-se os factores relacionados com as características biológicas e psicossociais dos indivíduos como seja a idade, o sexo, a história prévia de entorse do tornozelo, o mau alinhamento dos segmentos, o défice de flexibilidade, a amplitude limitada de movimento, a força muscular diminuída e o tempo de reacção muscular, a instabilidade articular, a laxidão articular generalizada, a diminuição da propriocepção e do controlo postural (Willems e col., 2005b; Baumhauer e col., 1995c). Da globalidade dos factores de risco intrínsecos, alguns poderão não ser modificáveis, como a idade e o sexo, enquanto que outros o serão como no caso da força, da flexibilidade e do equilíbrio (Andrish e col., 1974).

Relativamente ao tornozelo esta questão tem sido abordada na literatura com recurso a diversas metodologias, especialmente em estudos prospectivos ou de controlo de casos pela comparação de indivíduos lesionados com indivíduos sãos (Kofotolis e Kellis, 2007; McHugh e col., 2005; Tyler e col., 2005; Willems e col., 2005a; Willems e col., 2005b; Fu e Hui-Chan, 2005; Hertel e col., 1999; Brunt e col., 1992; Milgrom e col., 1991).
Os dispositivos experimentais mais usados no estudo da entorse do tornozelo, têm sido os sistemas de inversão brusca (Vaes e col., 2002; Konradsen e col., 1997) aquando da posição de pé e em apoio bipodal. Todavia este dispositivo permite um mecanismo de defesa ao sujeito, que passa pela transferência de peso para o membro inferior não em análise (Konradsen, 2005b), tornando-se dessa forma pouco reprodutores da realidade do mecanismo de entorse, que ocorre sobretudo numa situação de carga unipodal. Esta é a razão pela qual ultimamente, se têm usado sistemas mais dinâmicos, como sejam a marcha ou a recepção ao solo em apoio unipodal sobre superfícies inversoras (Gruneberg e col., 2003). A necessidade de reproduzir, o mais fielmente possível, as condições de ocorrência de entorse leva a que os dispositivos experimentais se tornem mais dinâmicos e coincidentes com as solicitações do gesto desportivo.
Há inúmeros factores e mecanismos tidos como possíveis contributos para a ocorrência de entorse do tornozelo (Lentell e col., 1995) ou pelo menos correlacionados com a ocorrência desta lesão. Apesar de alguns deles não poderem ser evitados, outros há que não ocorrerão se tiverem correcta e atempada intervenção por parte dos vários participantes na actividade desportiva (Richards e col., 2000b). No que concerne aos factores extrínsecos, o basquetebol aparece como sendo uma das modalidades em que o risco de ocorrência de entorse de tornozelo é elevado atendendo ao tipo de gestos exigidos pela prática desta modalidade e ao facto destes serem executados em espaços relativamente pequenos e densamente povoados. O mecanismo mais frequente de entorse do tornozelo é a recepção ao solo após o salto (McKay e col., 2001a) o que torna o basquetebol numa modalidade de risco atendendo ao elevado número de saltos a que os jogadores estão sujeitos. Similarmente, o tipo e o estado do campo surgem como determinantes da ocorrência de lesões que são mais frequentes em pisos sintéticos ou de madeira sem caixa-de-ar (Minkoff e col., 1994). As características do calçado usado poderão influenciar o risco de ocorrência de entorse do tornozelo (Beynnon e col., 2002). Para estes autores, o risco poderá ser diminuído se o calçado tiver características que possam aumentar o estímulo proprioceptivo ou, pelo contrário aumentado, se limitar a amplitude de movimento do tornozelo, tiver forças de tracção pé-sapatilha e sapatilha-chão anormais ou se provocar um aumento no momento da força de inversão sobre esse complexo articular. Outros investigadores (McKay e col., 2001a) encontraram risco acrescido de entorse em basquetebolistas cujas sapatilhas tinham ar no calcanhar enquanto que outros (Barrett e Bilisko, 1995; Barrett e col., 1993) não encontraram diferenças na sua ocorrência entre atletas que usavam sapatilhas tipo bota e tipo sapato.
A utilização de meios externos de protecção do tornozelo, como as ortóteses e as ligaduras funcionais, parece reduzir a incidência de entorse (Papadopoulos e col., 2005 ; Cordova e col., 2005; Handoll e col., 2001; Verhagen e col., 2000), ou pelo menos a sua reincidência (McKay e col., 2001b), embora haja tendência em atribuir-lhes a responsabilidade da diminuição da performance desportiva, facto ainda controverso (Rosenbaum e col., 2005b; Brizuela e col., 1997; MacKean e col., 1995; Burks e col., 1991).
A maior ocorrência de entorse em jogo que em treino (Meeuwisse e col., 2003; Arnason e col., 1996) ou a ocorrência de entorses de maior gravidade durante a competição, apesar de poder parecer lógico atendendo às diferentes solicitações, não é consensual (Sitler e col., 1994). O mesmo acontece com o risco diferenciado das várias posições ocupadas em campo pelos jogadores de basquetebol, que revelam diferentes ocorrências de lesão nos vários jogadores (Pfeifer e col., 1992), não sendo por isso possível identificar uma posição mais vulnerável. Já em relação ao nível competitivo parece poder encontrar-se uma maior ocorrência de entorse em basquetebolistas de elite apesar de outros factores poderem contribuir sem estarem previamente discriminados, como sejam a intensidade e nível de exigência, a frequência da exposição que poderá nos níveis competitivos mais altos não permitir tanto tempo para a recuperação pós jogo ou mesmo o aspecto cumulativo das exposições a que os basquetebolistas de elite estão sujeitos (Richards e col., 2000a).
Um dos factores de risco intrínseco frequentemente estudado é o género. Em relação à ocorrência de entorse do tornozelo especificamente, não parecem existir diferenças significativas entre homens e mulheres embora este aspecto não se estenda a todas as localizações anatómicas (Beynnon e col., 2002). Contudo, poderão encontrar-se riscos associados com a entorse do tornozelo que diferem entre homens e mulheres (Beynnon e col., 2001a). Ainda para estes autores, no estudo prospectivo efectuado em atletas de várias modalidades (Beynnon e col., 2001b), a laxidão ligamentar generalizada e o tipo anatómico de pé não são igualmente factores de risco de entorse do tornozelo. Para Willems e col. (2005a) os indivíduos que apresentam menor velocidade na corrida, menor resistência cardio-respiratória, menor equilíbrio e coordenação do movimento têm um risco acrescido de ocorrência de entorses do tornozelo. Esta autora identificou ainda como factores de risco para esta lesão o sentido de posição para inversão diminuído, a maior amplitude articular de extensão da primeira articulação metatarsofalangica, a menor coordenação no controlo postural (Willems e col., 2005b), a diminuição de força na musculatura dorsiflexora do pé e a diminuição do tempo de reacção dos músculos tibial anterior e gastrocnemius. O tempo de reacção da musculatura envolvida no complexo articular do tornozelo mantém grande controvérsia sobre se constitui ou não um risco de entorse (Beynon e col., 2002). Alguns autores (Vaes e col., 2002) não encontraram diferenças entre indivíduos com tornozelos sãos e previamente lesionados relativamente à latência, definida como o intervalo de tempo entre o início de uma inversão externamente imposta e o início da actividade do músculo longo peroneal, bem como em relação ao atraso electromecânico, tempo que medeia o inicio do registo da actividade electromiográfica e o início do movimento do pé, do mesmo músculo.
Resultados idênticos mas apenas no género masculino foram encontrados por outros autores (Beynnon e col., 2001a) para os tempos de reacção muscular a perturbações dos movimentos de dorsiflexão e inversão. Todavia, no sexo feminino, encontraram um tempo de reacção mais curto no músculo gastrocnemius e simultaneamente mais longo no tibial anterior em atletas lesionadas. Segundo os autores (Beynnon e col., 2001a) este aspecto sugere o compromisso da protecção articular dada pelos músculos da perna por via da co-contracção o que indica a possível existência de um défice neuromuscular em atletas lesionadas.
Para além do tempo de reacção muscular, também o peso, a altura (Knapik e col., 2001; McKay e col., 2001a; Milgrom e col., 1991), a dominância da perna (Chomiak e col., 2000; Seil e col., 1998), a laxidão ligamentar do tornozelo, o alinhamento anatómico, a força muscular (Soderman e col., 2001; Seil e col., 1998; Baumhauer e col., 1995b; Milgrom e col., 1991) e o equilíbrio (Soderman e col., 2001; McGuine e col., 2000; Hopper e col., 1995) mantêm a controvérsia relativamente ao facto de, se constituírem ou não, como factores de risco de entorse do tornozelo (Beynnon e col., 2002). Para alguns investigadores (McGuine e col., 2000) o equilíbrio constitui-se mesmo como um factor predictor de entorse do tornozelo em basquetebolistas e a sua avaliação deverá integrar o conjunto de exames clínicos a que os atletas são sujeitos na pré-época. Já outros autores (Beynnon e col., 2001a) encontraram diferentes factores de risco entre atletas de ambos os sexos. Relativamente às mulheres, encontraram maior risco de entorse de tornozelo naquelas que apresentavam varo tibial e eversão calcaneana aumentada enquanto que nos homens, o maior risco se associava à maior inclinação lateral do astrágalo. Sem qualquer controvérsia, a preexistência de entorse surge como o factor de risco que mais contribui e simultaneamente se constitui como a melhor predição da ocorrência de entorse do tornozelo (McKay e col., 2001a; Watson e Ozanne-Smith, 2000; Thacker e col., 1999).

 Mecanismos de protecção articular do tornozelo

A relativa simplicidade com que o centro de gravidade é mantido dentro da base de sustentação nos vários ambientes sensoriais em que o corpo humano se movimenta, contrasta claramente com a complexidade dos mecanismos de controlo motor que lhe estão subjacentes (Santello, 2005). Ou dito de outra forma, aparentemente é muito mais simples a manutenção do equilíbrio do que o é na realidade, face ao conjunto de processos de controlo motor que se devem desenvolver para que esse seja mantido. Do mais pequeno e simples ao mais complexo gesto, o sistema nervoso tem de controlar todos os factores envolvidos no movimento, para que este seja realizado de forma eficaz. A capacidade para, a cada momento, colocarmos o complexo sistema de alavancas que é o corpo humano, na posição adequada à situação, depende de uma série de factores sensoriomotores (Coelho, 2005). Discute-se a importância que esta capacidade de constante ajuste postural, o equilíbrio, poderá representar na protecção do movimento exagerado nas articulações, levando desse modo, à adaptação do movimento e evitando assim a lesão das estruturas articulares envolvidas. Segundo Konradsen, ( 2002b) a análise destes factores em relação ao membro inferior tem sido efectuada através do estudo de diferentes elementos electromiográficos da resposta reflexa, bem como pelo papel das estratégias periféricas e centrais de diferentes padrões de resposta e ainda pelo efeito da repetição e aprendizagem na modelação das respostas à perturbação.
Lephart e col. (1997) definem propriocepção como uma variação especializada da modalidade sensorial do toque que envolve a sensação de movimento e de sentido de posição articular provendo assim o sistema nervoso de informação sobre a situação no espaço de cada segmento corporal e da posição relativa dos vários segmentos entre si (sentido de posição), assim como do movimento por estes efectuado (cinestesia). Apesar de, durante muito tempo se ter atribuído à actividade reflexa espinhal a totalidade desta resposta, nos últimos tempos, à semelhança do que aconteceu no membro superior, tem sido colocada em causa.
As informações sensoriais dos segmentos chegam à medula espinhal pelas raízes dorsais dos nervos espinhais e daí até ao cérebro por uma das duas vias sensoriais alternativas: o sistema coluna dorsal lemnisco medial e o sistema antero-lateral que se juntam novamente a nível do tálamo. O sistema coluna dorsal lemnisco medial, transmite sinais principalmente, pelas colunas dorsais da medula e, depois para cima, pelo tronco cerebral até ao tálamo, pelo lemnisco medial. Os sinais do sistema antero-lateral, depois de se originarem nas pontas dorsais da substância cinzenta espinhal, cruzam para o lado oposto da medula e sobem por ela, pelas colunas brancas anterior e lateral, a todos os níveis do tronco cerebral e também ao tálamo. Ambos os sistemas são compostos de fibras nervosas mielinizadas que fazem a transmissão de sinais para o cérebro a uma velocidade entre 30 a 110 m/s no caso do sistema coluna dorsal – lemnisco medial e de 8 a 40 m/s no sistema antero-lateral (Nolte, 2002). Pelo sistema antero-lateral são transmitidas as informações que não têm necessidade de ser transmitidas rapidamente, as que não detectam graduações finais e têm menor precisão na localização. Este sistema tem capacidade de transmissão de vários tipos de informação sensorial como a dor, o calor, o frio e as sensações tácteis grosseiras.
O sistema coluna dorsal – lemnisco medial é usado essencialmente pelas informações mecanorreceptivas com maior necessidade de rápida transmissão, as que detectam graduações finais de intensidade e as que são distintamente localizadas em pontos exactos do corpo. Este é o sistema de transmissão preferencial das informações acerca da posição que englobam o reconhecimento consciente da orientação das diferentes partes do corpo, umas em relação às outras e o reconhecimento das frequências de movimento das diferentes partes do corpo. Os receptores deste tipo de informação incluem as terminações sensoriais nas cápsulas articulares e ligamentos (terminações de Ruffini estimuladas pelo movimento súbito da articulação; Órgãos Tendinosos de Golgi que são sensíveis a alterações na tensão do músculo; Corpúsculos de Paccini, que ajudam a detectar a velocidade de rotação na articulação), os receptores na pele e tecidos profundos na proximidade das articulações, e os fusos neuromusculares que detectam alterações do comprimento muscular. O ajuste do movimento depende não só da excitação do músculo pelos neurónios motores anteriores, mas também de um feedback contínuo de informações dos músculos ao sistema nervoso em cada instante. Para fornecer essas informações, os ventres musculares e tendões possuem dois tipos especiais de receptores sensoriais. Os fusos neuromusculares (FNM), que se distribuem por todo o ventre muscular e que enviam informações sobre o comprimento do músculo e ou a velocidade de alteração do seu comprimento; e os órgãos tendinosos de Golgi (OTG), que transmitem informações sobre o grau de tensão muscular ou a velocidade de alteração da tensão.
As contracções musculares que ocorrem quando o músculo é estirado, os reflexos miotáticos, podem ser divididos em dois componentes, dinâmico e tónico, que diferem tanto no estímulo como na resposta dada. O reflexo miotático dinâmico que se opõe a alterações súbitas do comprimento muscular é provocado por um estiramento rápido do músculo que origina um sinal potente transmitido pelas terminações aferentes primárias as quais, causam por sua vez, uma contracção reflexa do mesmo músculo que originou o sinal. O reflexo miotático tónico, que contribui para a manutenção do tónus muscular, é desencadeado por um estiramento passivo do músculo e caracteriza-se por uma contracção tónica relativamente fraca e de longa duração. Na posição de bipedestação, as articulações do membro inferior, através do reflexo miotático tónico que activa os músculos necessários para se oporem ao movimento, mantêm uma determinada posição para impedir o deslocamento do centro de gravidade do corpo para além do limite da base de sustentação, permitindo a manutenção da postura. Este reflexo é completado pelo reflexo miotático inverso cujos receptores são Órgãos Tendinosos de Golgi, sensíveis à força que o músculo desenvolve. O aumento de tensão provoca um aumento de actividade destes receptores que leva a uma inibição dos neurónios motores do músculo em contracção, limitando assim a força desenvolvida e que será maior que a tolerada pelos tecidos que estão a ser estirados. Aqui agem como "disjuntores" do músculo. O Reflexo Miotático Inverso é um mecanismo de feedback negativo que impede o desenvolvimento de demasiada tensão pelo músculo e permite equalizar a força desenvolvida pelas diversas fibras musculares, inibindo aquelas que desenvolvem demasiada tensão, e activando as que desenvolvem menos força pela ausência da inibição reflexa. Para além da função no controlo motor pela espinhal medula dos Fusos Musculares e dos Órgãos Tendinosos de Golgi, estes órgãos receptores têm também ligações a centros motores superiores, como o cerebelo e substância reticulada do tronco cerebral, aos quais fornecem informação fundamental para o seu funcionamento (Chaves e col., 2002).
Em caso de lesão, os receptores podem estar alterados, podendo causar desequilíbrios.
Aparentemente um dos mecanismos protectores de lesão está relacionado com a capacidade de uma estrutura (articular, muscular, etc.) apresentar um comportamento motor que possa contrariar a carga lesional a que é sujeita nas diversas actividades motoras. No que ao complexo articular do tornozelo se refere, alguns destes mecanismos estarão relacionados com a capacidade de gerar uma resposta motora rápida. Durante muito tempo esta questão foi abordada apenas de um ponto de vista estático (Konradsen e col., 1997; Karlsson e Andreasson, 1992; Konradsen e Ravn, 1990; Isakov e col., 1986) e relacionada com os reflexos originários dos receptores proprioceptivos que permitiriam a análise de posições articulares e a activação muscular de resposta a essa posição, apesar da maior parte das lesões cápsulo-ligamentares do tornozelo ocorrerem em situação dinâmica, frequentemente durante o ataque ao solo.
Quando um segmento é sujeito a uma força externa, ocorre uma resposta reflexa nos músculos estirados. Este reflexo acontece nas diversas actividades do dia a dia, como na marcha, na corrida, no salto. Apesar de poder ser considerado apenas como um simples comportamento neuromuscular, tem sido demonstrado que estas respostas são também influenciadas pelo tipo de contracção muscular, pelo nível de contracção prévia (Ogiso e col., 2002; Wallace e Miles, 1998; Nakazawa e col., 1997) e ainda pelas tarefas impostas ao complexo músculo-tendão (Doemges e Rack, 1992). Tipicamente o estiramento do complexo músculo-tendão gera uma resposta mecânica numa ou duas articulações. Esta resposta é composta por dois componentes: um primeiro em que a força aumenta imediatamente após o estiramento e um segundo, com uma latência maior. Parece haver consenso de que o primeiro componente desta resposta seja um reflexo de estiramento espinhal já que o seu tempo de latência é compatível com o atraso na activação monosináptica das fibras aferentes Ia. Já o segundo componente, é frequentemente descrito como um arco reflexo longo que atravessa o córtex cerebral pois a sua latência é suficientemente longa para tal (Thilmann e col., 1991; Day e col., 1991). Para os músculos distais do membro superior este reflexo de latência longa é mediado por via transcortical (Palmer e Ashby, 1992; Day e col., 1991; Capaday e col., 1991; Matthews e col., 1990). Mas este mecanismo supra espinhal tem sido questionado, especialmente para os músculos do membro inferior. Para vários autores (Corna e col., 1995; Schieppati e col., 1995) esta segunda resposta ao nível dos músculos do tornozelo é mediada por fibras aferentes tipo II provavelmente, de origem espinhal.
Em indivíduos sãos, os músculos peroneais, longo e curto, são os primeiros músculos da perna a registar actividade electromiográfica com uma latência entre 54 ms (Konradsen e col., 1997) e 85 ms (Lynch e col., 1996) face a uma inversão súbita executada numa situação estática, frequentemente o apoio bipodal. Apesar de alguns autores (Vaes e col., 2002; Johnson e Johnson, 1993), não terem encontrado diferenças significativas no tempo de latência dos peroneais pós inversão súbita entre indivíduos saudáveis e com instabilidade do tornozelo, outros (Karlsson e Andreasson, 1992; Konradsen e Ravn, 1990) encontraram latências mais elevadas em indivíduos com história de instabilidade funcional do tornozelo. As alterações no tempo de resposta dos peroneais podem indicar alterações na estabilidade dinâmica ao stress provocado pelo movimento de inversão (Lynch e col., 1996). As respostas reflexas dependem do tipo de actividade efectuada, pelo que é de esperar que estes valores possam ser bastante variáveis quer se tratem de actividades estáticas ou dinâmicas (Lavoie e col., 1997; Duysens e col., 1993; Capaday e Stein, 1986). Os tempos de latência dos músculos da perna dependem também da velocidade de estiramento desses músculos (Lynch e col., 1996), da mesma forma que diferirá, se a tarefa for desencadeada pelo próprio ou for externamente imposta, como acontece num salto auto-realizado ou na sujeição a um movimento inesperado em que o movimento iniciado não é desencadeado pelo próprio indivíduo.
Muitos autores consideram que as repostas musculares verificadas na recepção ao solo correspondem a reflexos espinais de latência curta (Greenwood e Hopkins, 1976); (Duncan e McDonagh, 2000; Dietz e col., 1981; Prochazka e col., 1977) enquanto que outros (Dyhre- Poulsen e Laursen, 1984) as consideram pré-programadas. Segundo alguns investigadores (Gruneberg e col., 2003) estas respostas de estiramento (miotáticas) serão inespecíficas e será de esperar que as de latência longa se tornem progressivamente mais específicas. Para Corden e col. (2000) este componente de latência longa não é mediado por via intra muscular.
A discussão relativamente à origem destas respostas mantém-se apesar de se encaminhar para a existência de duas vias diferentes. O papel dos reflexos de latência longa, média e curta observados durante os movimentos de inversão do tornozelo permanece ainda pouco claro, apesar de se admitir a sua possível contribuição para a prevenção da lesão em inversão do tornozelo, ao colocarem o pé em posição que dificulte a lesão.
A manutenção da estabilidade articular do tornozelo segundo Konradsen (2002b) será possível se este não for submetido a situações que o coloquem em risco por via do excesso de flexão plantar e inversão ou se nessa situação, for possível desencadear mecanismos de reacção contrária ao momento da força em inversão de forma suficientemente rápida e poderosa (Konradsen, 2002b). Este autor, defende que essa reacção muscular de defesa activa pode ser montada em tempo útil para a protecção da torção do tornozelo em determinadas situações e que, a magnitude e capacidade de recrutamento desta reacção é mediada por via cortical, podendo por essa razão, responder positivamente ao treino. Toda esta complexidade se torna ainda mais evidente quando variam os envolvimentos sensoriais em que a tarefa se pode desenrolar, de entre as quais salientamos, para o basquetebol, o salto com recepção ao solo no chão ou sobre o pé de outro atleta, alterando dessa forma a dureza e estabilidade da superfície em que o ataque ao solo é efectuado.
Durante o movimento descendente do salto a musculatura da perna activa-se suavemente para absorver o impacto da recepção ao solo (Santello, 2005). As características electromiográficas temporais e as de amplitude desta activação muscular são modeladas pelos constrangimentos da tarefa tais como a dureza da superfície de recepção e a altura do salto. Alguns autores (Kyrolainen e col., 2003) referem igualmente que a compreensão dos mecanismos reflexos e antecipatórios envolvidos no salto são da maior importância. Antes do contacto com o solo os músculos desencadeiam uma actividade muscular de pré contacto preparatória da recepção ao solo, que aparece como uma estratégia de preparação da musculatura para absorver o impacto, cujo tempo de ocorrência e magnitude são antecipadas pelo sistema nervoso central (Santello e McDonagh, 1998). De notar que se esperam diferenças tanto na pré-activação muscular como na força de reacção ao solo, quer se trate de um salto iniciado pelo próprio ou não (Fu e Hui-Chan, 2002). Aparentemente, a uma maior altura de salto corresponde uma maior amplitude electromiográfica mas um idêntico tempo (100 a 120ms) de activação muscular pré contacto. Este aspecto poderia significar que o salto seria independente da impulsão e eventualmente dependente do momento esperado de contacto (Santello e col., 2001). O mecanismo de co-contracção verificado durante esta activação de pré-contacto seria determinante para a colocação da tensão muscular necessária ao impacto da recepção ao solo. Mas seria também determinante para o posicionamento, tanto ao nível da articulação do tornozelo como de todo o membro inferior e do resto do corpo, no sentido de recolocar espacialmente os segmentos de forma a obter as posições mais adequadas à tarefa, com o máximo de eficácia. A posição em que os segmentos se colocam na fase prévia ao contacto é para Konradsen (2002a) determinante dos acontecimentos quando se faz a colocação da carga sobre o membro inferior. As posições articulares assumidas pelo membro inferior condicionam a eficácia do ataque ao solo, e a respectiva absorção do impacto produzido (Self e Paine, 2001). Segundo alguns autores (McKinley e Parker, 1991) outro tipo de constrangimentos, como a dureza da superfície de recepção do salto, podem alterar esta activação, sugerindo que essa possa ser treinada com a repetição de saltos para superfícies de dureza diversa.
Após o contacto, a actividade muscular poderá ser o resultado do efeito do reflexo de estiramento ou, de uma resposta programada centralmente e independente do grau de estiramento sofrido pelo músculo no momento de contacto (Duncan e McDonagh, 2000; Dyhre-Poulsen e col., 1991). Contudo, os mecanismos associados ao estiramento muscular aparentemente contribuem mas, não controlam a actividade muscular pós-contacto (Santello, 2005). Os mecanismos envolvidos no controlo da recepção ao solo estão ainda pouco esclarecidos. Para Johansson (1991) a memória sensoriomotora das interacções dinâmicas entre os segmentos corporais e o envolvimento ambiental, constitui um forte mecanismo de controlo. A sucessiva repetição do movimento em diferentes constrangimentos ambientais levaria à “construção de uma base de dados” que permitiria a realização desses movimentos em condições diversas. Provavelmente, ao contrário do que acontece com a informação produzida pela visão, a informação vestibular e proprioceptiva parecem ter uma influência determinante neste controlo de movimento (Santello e col., 2001). Dificilmente a entorse do tornozelo poderá ser considerada uma condição isolada e apenas com implicações locais. Diversos autores referenciados por Beynnon (2005) demonstraram existirem relações entre esta lesão e outras alterações aparentemente, inexistentes. Verificou-se a existência de alterações no equilíbrio e na capacidade de reequilibrar o corpo em indivíduos com história de entorse (Cornwall e Murrell, 1991; Konradsen e Ravn, 1990). Nitz e col. (1985) encontraram lesão do nervo peronial em 17% dos indivíduos que tinham sofrido entorse moderado e em 86% das entorses graves. Nesse mesmo estudo, também o nervo tibial anterior aparecia lesionado em 83% dos indivíduos com entorse mais grave. As alterações mencionadas e outras possíveis estão na origem da sugestão feita por dois investigadores (Beckman e Buchanan, 1995) da existência de mecanismos posturais compensatórios à alteração sofrida pelas estruturas pós entorse, pelo que as estratégias terapêuticas de recuperação desta lesão deveriam incluir exercícios em cadeia cinética fechada progredindo para a activação muscular concertada do membro inferior.
Parece assim, ser imprescindível a identificação das alterações mecânicas e funcionais conducentes a este traumatismo. Com efeito, mantém-se a necessidade de investigar acerca das alterações mecânicas e funcionais provocadas pela entorse do complexo articular do tornozelo e das relações estabelecidas entre ambas (Hertel, 2000) dado estarmos longe de ter atingido conclusões definitivas.

Autora : Maria António Castro

Lesões caraterísticas do basquetebol

O basquetebol é, como se disse, uma das modalidades desportivas que mais contribui para a ocorrência de um grande número de lesões desportivas (Kelm e col., 2004; Cohen e Metzl, 2000; Taylor e Attia, 2000; Siewers, 1998). O jogo de basquetebol envolve não só a aplicação de diferentes tipos de força, mas também um elevado contacto físico em todos os níveis de jogo. Embora as regras restrinjam o contacto físico, as colisões com as paredes e o soalho, com os suportes das tabelas e com companheiros e adversários são, por vezes, inevitáveis. Cada colisão destas representa uma oportunidade para a ocorrência de uma lesão. De facto, os diferentes tipos de forças aplicadas no jogo e as colisões decorrentes dos seus constrangimentos não se podem anular por completo (Janeira, 1998).
Nos Estados Unidos da América, onde o basquetebol é a segunda modalidade mais popular a questão das lesões tem sido bastante abordada. Apesar da forma de jogar apresentar algumas diferenças em relação ao basquetebol europeu, é possível estabelecer comparações na medida em que existem gestos desportivos semelhantes. A “National Collegiate Athletic Association” (NCAA) elabora anualmente um relatório das lesões ocorridas nesta modalidade, respectivas características e diferenças entre géneros. No último relatório (NCAA, 2004a; NCAA, 2004b) é evidente a predominância da ocorrência de lesões no membro inferior especialmente no tornozelo, contribuindo para a maior frequência de lesão nos dois sexos e especialmente na fase inicial da época desportiva. Neste estudo que reflecte 16 anos de análise das lesões do basquetebol nos vários níveis competitivos, o tornozelo é sempre a região anatómica que mais frequentemente sofre lesão seguida do joelho. A terceira zona mais acometida por lesões tem variado ao longo dos anos, mas no último triénio, a região lombar, o pé e o membro superior representam as terceiras localizações de lesão mais frequentes para os atletas do sexo masculino e a cabeça e pé para os atletas do sexo feminino. Em ambos os sexos o tipo de lesão com maior ocorrência, tanto em jogos como em treinos, é a entorse. Já o segundo e terceiro tipos de lesão variam entre a rotura e as contusões consoante se reportam a treinos ou a jogos, respectivamente.
No estudo efectuado por Powell e Barber-Foss, (1999) em duas épocas desportivas no desporto escolar, foram encontradas taxas de lesão de 3,4 por 1000 exposições de atletas em rapazes e 3,2 nas raparigas, durante os treinos e de 7,1 e 7,9 respectivamente durante os jogos. Estas lesões correspondiam maioritariamente a entorses do tornozelo, seguidas de outras lesões no membro inferior e no joelho. Cerca de 75% das lesões encontradas foram consideradas de gravidade ligeira. Já Sallis e col. (2001) encontraram resultados idênticos embora o joelho apareça como a segunda zona mais lesionada a seguir ao tornozelo, também em ambos os sexos.
Diversos autores (Damore e col., 2003; Baumhauer e col., 1995a; Zelisko e col., 1982) referem igualmente, que as lesões músculo-esqueléticas mais frequentes em basquetebolistas são as que afectam as extremidades dos membros inferiores e incluem contusões, roturas ligamentares e musculares, inflamações músculo-tendinosas, fracturas e luxações. As justificações deste tipo de ocorrências têm a ver com as particularidades específicas do jogo de basquetebol, ou seja com os locais onde o jogo decorre, com os materiais com que se lida e com as próprias imposições do jogo. O basquetebol é um jogo que privilegia a força explosiva, praticado num espaço físico muito reduzido e desenvolvendo-se em movimentos que requerem bruscas mudanças de velocidade e de direcção, rotações súbitas e inúmeros saltos, o que, necessariamente, implica variadíssimas situações de contacto físico não sancionadas pelas regras.
As características atrás mencionadas estarão provavelmente na origem do facto do basquetebol ser uma das modalidades onde ocorrem tipos de lesões tão específicas como as anteriormente referidas. Entre os anos de 1990 e 1993, (Ellison, 1995) estudou 125690 desportistas de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os cinco e os dezanove anos, os quais recorreram aos serviços de urgências de diversos hospitais canadianos. As conclusões do estudo apontavam para (i) o enorme contributo das lesões desportivas para a totalidade das lesões ocorridas nas mais diversas situações, ultrapassando claramente o número de lesões devidas a acidentes de viação (referências a partir dos estudos de (Davies, 1981) efectuados na Grã-Bretanha); (ii) a importância do valor absoluto de indivíduos lesionados na sequência da prática do basquetebol (5028), sobretudo do sexo masculino (67%), números estes que representam 4% da totalidade dos indivíduos avaliados, lesionados no decorrer da prática de outras modalidades. O basquetebol é frequentemente apontado como a modalidade que depois do futebol americano, mais contribui para a ocorrência de lesões (Damore e col., 2003; Powell e Barber-Foss, 2000b). Destas, a entorse do tornozelo é, sem dúvida, a mais frequente no basquetebol de competição (McHugh e col., 2005; Junge e col., 2005; Hosea e col., 2000a; Yde e Nielsen, 1990) com expressões que variam entre os 38% (Powell e Barber-Foss, 1999; Pienkowski e col., 1995) e os 45% (Locke e col., 1997; Liu e Jason, 1994) da totalidade das lesões ocorridas no basquetebol. Smith e Reischl (1986) num estudo que envolveu 84 basquetebolistas do sexo masculino pertencentes a cinco liceus dos EUA, constataram que 59 dos indivíduos avaliados sofreram entorse do tornozelodurante a época desportiva, valor este, que representa 70% da amostra em estudo. Também Martin e col. (1987) numa análise epidemiológica nos Jogos Olímpicos para atletas juniores verificaram que dos 347 participantes do sexo masculino do torneio de basquetebol, 77 sofreram uma qualquer lesão. Destes, 32% sofreram entorses. De igual modo, Gomez e col. (1996) identificaram a entorse do tornozelo como a lesão mais frequente no basquetebol, a partir da avaliação realizada em atletas do sexo feminino (n=890; idade=[14-18]anos) nos EUA. De facto, das 430 lesões participadas, 56% referiam-se a entorses do tornozelo. Neste mesmo domínio, a entorse do tornozelo corresponde a 21,7% de todas as lesões avaliadas em basquetebolistas canadianos do sexo masculino (n=5028; idade=[5-19] anos) estudados por Ellison (1995) durante 3 anos consecutivos (1990/93).
Mesmo no basquetebol de recreação, as entorses representam o tipo de lesão mais frequente (Chan e col., 1984) ou então o segundo tipo de lesão mais frequente, apenas antecedidos pelas contusões (Gutgesell, 1991). Todavia, a unanimidade acerca destes valores não é total. É de notar ainda que as entorses do tornozelo representam mais de 3/4 de todas as lesões do tornozelo ocorridas no basquetebol - 85% segundo Garrick e col. (1997) e 91,2% segundo Ellison (1995)1.
Outro aspecto que importa analisar refere-se ao tempo a que lesão obriga o atleta a estar ausente do treino ou competição (tempo de paragem). Em todas as modalidades desportivas, este traumatismo representa entre 10% a 20% do tempo de paragem dos atletas por efeito de lesões (Shapiro e col., 1994a). Valores ligeiramente superiores (20% - 25%) são referidos por Robbins e Waked (1994) para atletas de modalidades cuja prática desportiva recorra de forma sistemática, à corrida e aos saltos. Também no basquetebol a entorse do tornozelo é aquela que provoca mais tempo de paragem ao basquetebolista lesionado. De facto, alguns estudos neste domínio evidenciam valores de tempos de paragem após entorse do tornozelo que variam entre 16,6% (Sheth e col., 1997b) e 25% (Ottaviani e col., 1995) da totalidade do tempo de paragem por efeito de qualquer tipo de lesão.
Os aspectos anteriormente evidenciados reflectem bem a importância das lesões no quadro dos cuidados da preparação desportiva em basquetebol, no qual a entorse do tornozelo assume uma preponderância assinalável. Reforçando esta ideia, Thonnard (1996) é peremptório ao afirmar que os atletas que tenham feito uma entorse do tornozelo têm o dobro das probabilidades de voltar a lesionar o mesmo tornozelo e Sheth e colaboradores (1997b) apontam a ocorrência desta lesão como factor predisponente para uma recidiva.

Factores de risco de lesão no Basquetebol

Especificamente ao nível do basquetebol, a literatura internacional refere alguns factores que se relacionam ou contribuem para a variação na incidência das lesões, como sejam o sexo, a idade, as características antropométricas, a posição ocupada no jogo, o equipamento usado, as condições de treino, a flexibilidade, a força, a potência e a resistência, o equilíbrio, a coordenação, a estabilidade e a propriocepção, a fadiga, o nível competitivo e a preexistência de doença ou de lesão (Murphy e col., 2003; Richards DW e col., 2000).
Para vários autores (Tucker, 1997; Ellison, 1995; Stone e Steingard, 1993) a frequência de lesões no basquetebol, a exemplo do que acontece noutras modalidades desportivas, aumenta proporcionalmente com o aumento da idade dos atletas. Ao nível da competição profissional, a ocorrência de lesões é mais elevada durante a competição que durante o treino (NCCA, 1993; Backx e col., 1991a; Henry e col., 1982) o que leva a crer que a maior intensidade do jogo, conduz a um maior risco de lesão (Zvijac e Thompson, 1996) ou pelo menos a padrões de lesão diferentes.
Como já foi anteriormente referido para a generalidade das modalidades desportivas, também no basquetebol existe alguma controvérsia sobre o facto do género dos atletas contribuir para uma maior ocorrência de lesões (Dane e col., 2004; Kelm e col., 2004; McKay e col., 2001c; Stevenson e col., 2000; Messina e col., 1999). Todavia, nesta modalidade, a frequência de lesões no joelho é elevada atendendo às muitas solicitações em torção. Este é o mecanismo de lesão mais frequente desta região anatómica, e a lesão do joelho foi em vários estudos mais significativa em atletas de sexo feminino (Hickey e col., 1997b; Gomez e col., 1996b).
O tipo de superfície em que o basquetebol é jogado condiciona o tipo de lesão ocorrida. A maior ocorrência de queimaduras por fricção deve-se a superfícies mais ásperas enquanto que uma maior ocorrência de lesões de repetição, de que são exemplo as inflamações de músculos e tendões se verifica em terrenos duros. Os campos sintéticos são normalmente responsáveis por lesões de desaceleração atendendo ao elevado atrito que produzem. Neste aspecto é de evidenciar o facto de os atletas estarem ou não habituados a usar o campo (Meeuwisse e col., 2003) já que as condições do campo afectam mais os atletas visitantes. Do mesmo modo parece consensual, o maior risco de lesão durante o jogo que durante os treinos.
A posição ocupada pelo atleta no campo representa diferentes exposições ao risco. As particularidades do jogo de basquetebol exigem dos atletas uma especialização apurada em diversos domínios que se constitui como um conjunto de atributos únicos da forma de jogar dos bases, dos extremos e dos postes (Janeira, 1994a). Esta diversidade de funções e, obviamente, de tarefas que os atletas são obrigados a realizar implicam modos de actuação também diversificados, com recurso a diferentes solicitações motoras.

Autora : Maria António Castro

Ataxia de Friedreich

A Ataxia de Friedreich (AF) é uma doença neurodegenerativa autossômica recessiva caracterizada por sintomas cardíacos, musculares e metabólicos, causados pela degeneração de estruturas no cerebelo e da medula espinal.

Diagnóstico clínico da Ataxia de Friedreich
A testagem genética é capaz de identificar a AF. Porém, por motivos financeiros óbvios, não se realiza o exame genético em todos os pacientes.
O início dos sintomas geralmente começa entre as idades de 5 e 15, mas são geralmente referido pela primeira vez na adolescência. A maioria dos pacientes torna-se dependente de cadeira de rodas pela segunda ou terceira década de vida. Além dos sinais típicos de lesões cerebelares (marcha atáxica, déficit de equilíbrio, dismetria, disartria, disfagia e nistagmo), as manifestações clínicas incluem também a diminuição da sensação de toque leve, da propriocepção e da sensação vibratória, fraqueza progressiva dos braços e pernas, pés cavos, cifoescoliose, além de atrofia óptica (25% dos casos), perda de audição (cerca de 10% dos doentes), diabetes em 10% dos indivíduos afetados) e cardiomiopatia (dois terços dos doentes).
A cardiomiopatia e a diabetes são, geralmente, as causas de morte, mas também uma pneumonia provocada pela disfagia, pode encurtar o tempo de vida destes pacientes [1]

TRATAMENTO
Não há cura para a AF. Os sintomas e as complicações que acompanham podem ser tratados para ajudar o paciente a manter a qualidade de vida tanto quanto possível. Como em tantas outras doenças, o tratamento adequado deve envolver uma equipe multidisciplinar composta por Médicos, Terapeutas Ocupacionais, Terapeutas da fala, Psicólogos e Fisioterapeutas.

TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO:

OBJETIVOS
As metas gerais da fisioterapia são potencializar ao máximo a função e minimizar a incapacidade, deformidades e dor. Outro objetivo primário nestes pacientes é prolongar as habilidades de locomoção (aqui incluem-se tanto a marcha quanto a capacidade de “tocar” a cadeira de rodas). As principais responsabilidades do fisioterapeuta são ensinar ao paciente um programa de exercícios domiciliares abrangentes para complementar a fisioterapia ambulatorial.

AVALIAÇÃO
O paciente com AF vai precisar de uma avaliação completa e minuciosa por parte do fisioterapeuta. A avaliação deve incluir a avaliação da marcha, força, flexibilidade, amplitude de movimento, equilíbrio, coordenação, alinhamento da coluna, postura, estado funcional, resistência a fadiga, e necessidade de dispositivos auxiliares da marcha. Testes clínicos de avaliação da marcha e do equilíbrio podem ser úteis nas fases iniciais, quando o paciente ainda é capaz de realizar as trocas posturais e deambular de forma independente.

O TREINO DE MARCHA
O treino de marcha é um componente chave do plano de tratamento. O padrão de marcha na AF é caracterizado por uma marcha insegura, com passos desordenados, base de sustentação aumentada (pernas afastadas), balançando em exagero os braços e pernas, elevação demasiada das pernas e batida brusca do calcanhar contra o solo (marcha tabética, também chamada marcha calcaneante ou talonante). A batida dos pés contra o solo é proposital. O paciente causa este impacto como forma de gerar algum input proprioceptivo, e assim saber se o pé já encontrou o solo. E justamente por esta falta de input proprioceptivo, o paciente também costuma caminhar olhando para o solo, de forma a regularizar os movimentos incoordenados dos membros inferiores através do controle visual.
A denominação científica, e clinicamente mais adequada, para este padrão de marcha é “marcha atáxica da síndrome radiculocordonal posterior” (ataxia sensitiva).
Neste ponto é fundamental ter em mente que devido a perda da propriocepção, é necessário instruir o paciente a prestar atenção a seus pés enquanto caminha para melhorar a aterrisagem do pé ao final da fase de balanço.

Pacientes com AF perdem a capacidade de deambulação dentro de oito a 10 anos do início dos sintomas [2] Mesmo quando o paciente precisar de cadeira de rodas para a locomoção, a importância da marcha em casa e do ortostatismo para a descarga de peso sobre os membros inferiores devem ser enfatizadas pelos fisioterapeutas.

Exercícios de fortalecimento
Nos exercícios de fortalecimento, o paciente não deve ser levado a exaustão. Deve ser dada preferência a exercícios com poucas repetições, carga baixa e períodos de descanso entre as séries. O fortalecimento dos músculos das cinturas pélvica e escapular é importante para manter a postura e o uso funcional dos membros. Exercícios de fortalecimento do tronco podem ser úteis para minimizar a escoliose. Exercícios de PNF são recomendados para pacientes atáxicos. Neste caso, a estabilização rítmica pode ser utilizada para promover a estabilização do tronco com o paciente em prono sobre os cotovelos, na posição quadrúpede, ou de pé [3].

Exercícios de alongamento
Alongamento do tríceps sural e do arco do pé são importantes para pacientes com AF, devido a presença do pé cavo [3], o alongamento da musculatura de tronco é benéfico para o encurtamento muscular associado a escoliose. Em pacientes em cadeira de rodas, os tendões flexores do quadril e joelho não podem ser esquecidos.

Exercícios de Coordenação
Ao instruir o paciente em exercícios de coordenação, é importante instruí-los a "observar" o movimento durante a realização do exercício. Às vezes, um espelho pode ser útil durante a execução destes exercícios. Os exercícios de coordenação não precisam se limitar aos exercícios de Frenkel, e podem (e devem) incluir atividades do dia a dia do paciente tais como cozinhar, fazer artesanato, escrever ou mesmo dançar, com instruções para que o paciente permaneça observando as atividades.

Exercícios de Equilíbrio
Devido a ataxia, os pacientes podem relatar quedas frequentes. Os exercícios de equilíbrio podem ajudar com a melhoria ou manutenção do equilíbrio de pé, durante a marcha e ao se movimentar. Instrua o paciente a fazer esses exercícios na frente de um espelho ou manter os olhos sobre um objeto parado (referencial) durante as atividades terapêuticas.

Condicionamento
Condicionamento cardiovascular deve ser enfatizado para o paciente com AF. Exercícios moderados geralmente não são contra-indicados desde que não haja disfunção cardíaca. [3] Exercícios em uma bicicleta estacionária podem ser realizados desde que o paciente consiga se manter estável durante o exercício. A Natação ou exercícios aquáticos também são benéficos.

Necessidades de equipamentos
Dispositivos auxiliares da marcha são úteis para compensar a perda de coordenação e força. No caso, as órteses, aparelhos de apoio e cadeiras de rodas podem ser recomendados para auxiliar com a deambulação e mobilidade.

CONCLUSÃO
Antes de estabelecer o plano de tratamento para um paciente com Ataxia de Friedreich, o fisioterapeuta deve fazer seu trabalho de casa, e de posse das principais dificuldades enfrentadas por estes pacientes realizar uma avaliação minuciosa incluindo queixas subjetivas, capacidade funcional, postura, força muscular, amplitude de movimento, flexibilidade muscular, coordenação, mobilidade, marcha, resistência e resposta cardiovascular à atividade.

Estabelecer um programa de exercícios é de extrema importância para esta população de pacientes. Um programa de exercícios para ser realizado em casa contribui para a sensação de bem-estar do paciente. Não se esqueça de realizar reavaliações periódicas para a modificação e atualização do programa de exercícios domiciliares. Devido à natureza progressiva da doença, os ganhos de força ou de coordenação não são esperados, mas como já dito anteriormente, o objetivo maior de nossa intervenção é prolongar a função e assim garantir uma maior qualidade de vida [3]

REFERÊNCIAS
[1] (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/bookshelf/br.fcgi?book=gene&part=friedreich)
[2] Muscular Dystrophy Association. (2006). Friedreich's Ataxia Fact Sheet. Retrieved from the World Wide Web: www.mda.org.au/specific/mdafa.html
[3]Blattner, K. (1988). Friedreich's Ataxia: A suggested physical therapy regimen. Clinical Management, 8(4), 14-15, 30.

Os Exercícios de Frenkel para ataxia, aqui apresentados em tradução livre, consistem de uma série de exercícios projetados para ajudar a compensar a inabilidade de saber, sem olhar, onde estão os braços e as pernas no espaço. Estes exercícios foram compilados pela NAF - National Ataxia Foundation (Fundação Nacional de Ataxia dos EUA) e seu texto original pode ser encontrado em Frenkel´s Exercises for Ataxic Conditions.
                                                                              

Recomendações
·                     Os exercícios são projetados principalmente para coordenação e não para fortalecimento muscular.
·                     Os exercícios devem ser comandados e contados em tom de voz constante e lenta.
·                     É importante que o local seja bem iluminado e que você esteja posicionado de forma a poder enxergar os movimentos de suas pernas.
·                     Evite cansar-se. Cada exercício não deve ser executado mais do que quatro vezes. Descanse entre cada exercício. O exercício todo deve durar aproximadamente 1/2 hora e deve ser feito 2 vezes por dia.
·                     Os exercícios devem ser feitos dentro do alcance normal dos movimentos, evitando-se forçar demasiadamente os músculos.
·                     Os exercícios mais simples devem ser executados adequadamente antes de se prosseguir para os mais difíceis.

Exercícios deitado

Posição inicial: deite de costas na cama ou em uma superfície plana, ao longo da qual os pés possam ser movidos facilmente. Sua cabeça deve estar apoiada em um travesseiro, de forma que você possa observar todos os movimentos.
·                     Movimente uma perna dobrando o joelho e deslizando o calcanhar em direção ao quadril. Volte à posição inicial e repita com a outra perna.
·                     Movimente uma perna como no exercício anterior. Então dobre a perna lateralmente sem deslocar o pé. Retorne a perna para o centro. Volte à posição inicial e repita com a outra perna.
·                     Movimente uma perna dobrando o joelho e erguendo o calcanhar. Volte à posição inicial e repita com a outra perna.
·                     Movimente uma perna dobrando o joelho e deslizando o calcanhar em direção ao quadril, como no primeiro exercício, mas interrompendo o movimento em qualquer ponto sob comando. Volte à posição inicial e repita com a outra perna.
·                     Movimente uma perna dobrando o joelho e colocando o calcanhar sobre o joelho da outra perna. Então deslize o calcanhar do joelho até o tornozelo e de volta para o joelho. Volte à posição inicial e repita com a outra perna.
·                     Movimente ambas as pernas dobrando os joelhos e deslizando os calcanhares em direção ao quadril mantendo os tornozelos unidos. Volte à posição inicial.
·                     Movimente alternadamente as pernas, dobrando os joelhos e retornando à posição inicial, como se estivesse pedalando.

Exercícios sentado

Posição inicial: sente-se em uma cadeira, com os pés no chão.
·                     Levante o calcanhar mantendo a ponta do pé no chão. Em seguida levante o outro pé inteiro e recoloque-o no chão sobre o mesmo local. Alterne os movimentos.
·                     Faça duas marcas de cruz no chão com giz. Alternando as pernas plane o pé em cima do sinal marcado: para frente, para trás, para a esquerda e para a direita.
·                     Aprenda a levantar-se e sentar-se com um certo ritmo. Primeiro, dobre os joelhos e puxe os pés para baixo da cadeira; segundo, dobre o tronco adiante; terceiro, levante-se endireitando os quadris e joelhos e então o tronco. Inverta o processo para sentar-se.

Exercícios em pé

Posição inicial: mantenha-se ereto com os pés separados de 10 a 15 cm.
·                     Deslocar-se lateralmente para a direita com meio passos. Execute o exercício de forma cadenciada: primeiro, transfira seu peso para o pé esquerdo; segundo, desloque o pé direito 30 cm para a direita; terceiro, transfira seu peso para o pé direito; quarto, desloque o pé esquerdo 30 cm para a direita. Repetir o exercício para a esquerda. O tamanho do passo para a direita ou para a esquerda pode ser variado.
·                     Caminhe para frente entre duas linhas paralelas distantes 35 cm, colocando o pé direito sobre a linha direita e o pé esquerdo sobre a linha esquerda, enfatizando a correta colocação dos pés. Descanse depois de 10 passos.
·                     Caminhe para frente, enquanto coloca cada pé adiante em pegadas previamente localizadas no chão. As pegadas devem ser paralelas e distanciadas em aproximadamente 10 cm. Pratique com um quarto de passo, meio passo, três quartos de passo e passo inteiro.
·                     Virando para a direita. Primeiro, eleve a ponta do pé direito girando-o sobre o calcanhar para o lado direito; segundo, eleve o calcanhar do pé esquerdo girando-o sobre a ponta do pé para o lado direito; terceiro, reposicione-se e complete a volta inteira. Repita para o lado esquerdo.
·                     Suba e desça uma escada degrau por degrau, colocando o pé direito em um degrau e depois o esquerdo no mesmo degrau. Depois pratique colocando um pé em cada degrau. No princípio utilize o corrimão; com a melhora de equilíbrio, dispense o corrimão.

Exercícios de braços e mãos

No caso dos braços estarem afetados, utilize um quadro-negro e giz. Desenhe diagramas simples (linhas retas, círculos, linhas em zig-zag, etc.); mude um sinal de menos para um sinal de mais; Várias tábuas de coordenação podem ser utilizadas para melhorar a coordenação dos olhos e das mãos.


Princípios de Prevenção de lesões em Desporto


Apesar da expressão comum em desporto de que “a lesão faz parte do jogo” (Chalmers, 2002) ela é, um problema complexo de origem multifactorial resultante de interacções várias entre factores de origens diversas de que são exemplo factores fisiológicos, psicológicos, ambientais e do próprio acaso (Gleim e McHugh, 1997). Por essa razão, a lesão desportiva exige uma abordagem multidisciplinar no sentido de encontrar e implementar soluções efectivas para a redução da sua ocorrência (Whiting e Zernicke, 1998).
Aliás parece ser essa atitude que se tem desenvolvido nos últimos anos, avaliando pelo crescente aumento do número de estudos que nesta área se têm vindo a realizar. De acordo com o modelo desenvolvido para o desporto por Van Mechelen (1992a) os programas de prevenção compreendem quatro fases distintas mas fortemente interligadas, que devem permitir a identificação e descrição da extensão das lesões desportivas e das suas consequências bem como dos mecanismos de lesão, para que seja possível introduzir medidas que possam reduzir de forma eficaz o risco futuro ou a severidade das lesões desportivas. A última etapa corresponde necessariamente à imprescindível reavaliação de todo o processo no sentido de verificar a eficácia das medidas introduzidas. Estas medidas deverão ter por base o trabalho previamente realizado de identificação de mecanismos e etiologias das lesões, pois só dessa forma serão fundamentadas e poderão conduzir a resultados positivos na prevenção das lesões.
De forma genérica a prevenção e as medidas preventivas que podem ser tomadas a
propósito das lesões desportivas dividem-se em dois níveis: aquelas que procuram evitar a ocorrência da lesão (prevenção primária), e as que depois da lesão ter ocorrido, procuram minimizar as suas consequências contribuindo para a rápida recuperação do indivíduo lesionado e evitar a sua recorrência (prevenção secundária) (Weaver e col., 2002). As estratégias preventivas do primeiro nível são definidas depois de terem sido identificados factores de risco relativos à actividade desportiva, às capacidades morfo-funcionais do atleta e/ou ao modo como este realiza a actividade. A identificação dos factores de risco é feita através da análise cinesiológica da actividade desportiva (componentes anatómicas e mecânicas implicadas), através da avaliação funcional do atleta (análise morfo-funcional do atleta em função do seu estado de desenvolvimento biológico e das necessidades requeridas pela actividade desportiva) e ainda pela análise epidemiológica que procura conhecer como e porque acontecem as lesões. Para Chalmers (Chalmers, 2002) o verdadeiro desafio consiste neste nível de prevenção, ou seja evitar a primeira ocorrência de lesão. Powell e Barber–Foss (2000b) defendem ainda que para implementar melhores programas de prevenção devem ser usados os resultados de investigações que combinem as variações anatomo-fisiológicas entre os dois sexos e integrem essa informação com outros riscos internos, dos praticantes e externos, do desporto específico.
Embora não seja possível evitar totalmente a ocorrência de lesões em desporto, têm sido utilizadas várias estratégias no sentido de as reduzir e atenuar igualmente a sua gravidade e as consequências nefastas para os atletas e para o seu envolvimento desportivo e social. A avaliação dos resultados obtidos por via dessas estratégias preventivas está no entanto, ainda numa fase inicial, o que aliás é ilustrado pelo facto de apenas no ano de 2005 decorrer o primeiro congresso mundial sobre prevenção de lesões desportivas.
Segundo Brukner (1993) algumas das medidas que podem contribuir para a prevenção de lesões são o aquecimento prévio à actividade desportiva, o desenvolvimento de flexibilidade, a utilização de material de protecção adequado onde se incluem as ortóteses e ligaduras funcionais e, a análise e aplicação dos princípios biomecânicos ao treino, o treino adequado, a inexistência prévia de lesões e todo o envolvimento psicológico e nutricional dos atletas. Outros autores referem ainda como aspectos fundamentais na prevenção de lesões desportivas o treino de força (Petersen e Holmich, 2005; Holm e col., 2004) e o treino proprioceptivo (Dante e Valmor, 2005; Cerulli e col., 2001; Soderman e col., 2000).
O aquecimento prepara o corpo para o exercício aumentando a saída energética e a temperatura corporal. A sua estrutura dependerá do tipo de actividade a realizar. Para Kannus e Natri (1997) o aquecimento tem duas funções essenciais: prevenir lesões e melhorar a performance. A flexibilidade parece fazer diminuir a incidência de lesões músculo-tendinosas para além de permitir que o movimento decorra em toda a amplitude disponível nas articulações de uma forma harmoniosa (Welch e col., 1995). Por outro lado, a utilização de ligaduras funcionais e ortóteses com o objectivo de restringir ou modificar movimentos que possam ser causadores de lesões tem-se tornado uma forma muito comum de prevenção (Davis, 2004; Parkkari e col., 2001). O mesmo acontece com a utilização de equipamento de protecção de que são exemplo as caneleiras e protecções dentárias (Rampton e col., 1997). A utilização de equipamento adequado, de que é exemplo o calçado desportivo, poderá significar a diferença na ocorrência de lesões (Stacoff, 2000; Barrett e Bilisko, 1995; Barrett e col., 1993). De igual modo, a superfície de prática desportiva deverá ser adequada à modalidade em causa e ao tipo de esforço requerido (Stacoff, 2000; Barrett e Bilisko, 1995; Barrett e col., 1993).
A análise biomecânica contribui para a execução harmoniosa do movimento, permitindo que o movimento executado pelo atleta possa ser corrigido e optimizado. Dessa forma, é possivel obter a máxima eficácia do movimento e assim, fazer diminuir o risco de ocorrência de lesão (Subotnick, 1985). O treino apropriado tendo em conta a resistência máxima das várias estruturas envolvidas na actividade permite o equilíbrio entre quantidade e qualidade de performance de forma a maximizá-la e, pressupõe a periodização, especificidade, sobrecarga e individualidade, aspectos que deverão estar presentes na planificação do treino efectuada pelo treinador (Ekstrand, 1982). A pré existência de lesão é um dos factores mais frequentemente apontados como causador de lesão em desporto (Walther e col., 2005). Por essa razão, a recuperação adequada das lesões é considerada de fulcral importância, assim como o controlo do retorno à prática desportiva (Bahr e Krosshaug, 2005). A tensão emocional que envolve o fenómeno desportivo contribui para ocorrência de lesões pelo desequilíbrio que provoca ao nível da tensão muscular, do mesmo modo que na diminuição da concentração. Neste sentido o trabalho psicológico dos atletas surge também como uma forma de prevenir a ocorrência das lesões. Um outro aspecto a ter em conta quando se pretendem prevenir lesões em desporto é a nutrição (Armsey e Hosey, 2004), tanto pela sua relação directa com as cargas a que o atleta é submetido como, especialmente em desportos em que se classifica o atleta com base no peso, pela forma como a nutrição é abordada.
Uma estratégia de prevenção que tem sido desenvolvida nos últimos anos é o arrefecimento pós esforço que permite um retorno gradual a um nível de metabolismo próximo do normal, facilitando desse modo a mais rápida recuperação (Coulon e col., 2001).
A diminuição progressiva do exercício parece favorecer a remoção dos produtos resultantes da contracção muscular (Wigernaes e col., 2001), nomeadamente o ácido láctico,diminuindo a rigidez muscular pós exercício e favorecendo assim a recuperação física do atleta (Brukner e Khan, 1993). Para além disso, quando o exercício termina de forma abrupta, as alterações na pré-carga a que o sistema cardiovascular se sujeita podem trazer complicações já que uma parte significativa de sangue se mantém nos membros inferiores podendo fazer reduzir o aporte sanguíneo a órgãos vitais.
Permanece alguma controvérsia relativamente ao efeito da flexibilidade na prevençãode lesões desportivas mas alguns autores (Witvrouw e col., 2004; Watson, 2001), encontraram uma associação significativa de risco de lesão em indivíduos com menos flexibilidade. Já a diminuição da amplitude disponível na articulação parece influenciar a maior ocorrência de lesão (Willems e col., 2005a) o que poderá estar relacionado com a flexibilidade na medida em que, uma menor flexibilidade implica uma menor amplitude articular.
A ocorrência de lesões durante a prática desportiva é uma realidade. Embora o desporto apresente uma perspectiva teórico–filosófica cujos princípios visam, um desenvolvimento harmonioso, global e salutar do atleta, a realidade mostra-nos como esses princípios são ultrapassados, atingindo-se por vezes, principalmente ao nível da alta competição, limites perigosos para a saúde do praticante devendo por isso, ser dada maior ênfase à prevenção.


Autora: Maria Antonio Castro.