Autores: Pedro Schestatsky, Vitor Félix Torres, Leila Beltrami Moreira, Bárbara Corrêa Krug e
Karine Medeiros Amaral
Para a análise de eficácia dos tratamentos específicos para síndrome de Guillain-Barré atualmente
registados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e, portanto, disponíveis para utilização e
comercialização no Brasil, foram realizadas as buscas nas bases descritas abaixo. Foram avaliados todos os
estudos disponíveis e selecionados metanálises e ensaios clínicos randomizados, controlados e duplo-cegos,
publicados até 01/10/2009.
Na base Medline/Pubmed: “Intravenous Immunoglobulins”[Substance Name] AND “Guillain Barre
Syndrome” [Mesh]; “Intravenous Immune Globulin”[Substance Name] AND “Guillain Barre Syndrome” [Mesh]; “Immunoglobulins, IV”[Substance Name] AND “Guillain Barre Syndrome”[Mesh]; “Plasmapheresis”[Substance Name] AND “Guillain Barre Syndrome”[Mesh]; “Plasmapheresis”[Substance Name] AND “Guillain Barre Syndrome”[Mesh]; “Plasmapheresis”[Substance Name] AND “Guillain Barre Syndrome”[Mesh]. Limitadas a: “Humans, Meta-Analysis, Randomized Controlled Trial”
Na base Ovid: Intravenous Immunoglobulins AND Guillain Barre Syndrome AND Clinical Trial
[Publication Type]; Plasmapheresis AND Guillain Barre Syndrome AND Clinical Trial [Publication Type].
Na base Cochrane: “Intravenous Immunoglobulins”; “Plasmapheresis”; “Guillain Barre Syndrome”.
INTRODUÇÃO
O Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é a maior causa de paralisia flácida generalizada no mundo1,2,
com incidência anual de 1-4 por 100.000 habitantes1 e pico entre 20-40 anos de idade. Não existem dados
epidemiológicos específicos para o Brasil. Trata-se de uma doença de caráter autoimune que acomete
primordialmente a mielina da porção proximal dos nervos periféricos de forma aguda/subaguda.
Aproximadamente 60%-70% dos pacientes com SGB apresentam alguma doença aguda precedente
(1-3 semanas antes)3,4, sendo a infecção por Campylobacter jejuni a mais frequente delas (32%), seguida
por citomegalovírus (13%), vírus Epstein Barr (10%) e outras infecções virais, tais como hepatites por vírus
tipo A, B e C, influenza e HIV1,5. Outros fatores precipitantes de menor importância são cirurgia, imunização e gravidez6,7.
A maioria dos pacientes percebe inicialmente a doença através de sensação de parestesias nas
extremidades distais dos membros inferiores e, em seguida, superiores. Dor neuropática lombar ou nas pernas pode ser vista em pelo menos 50% dos casos2. Fraqueza progressiva é o sinal mais perceptível ao paciente,
ocorrendo geralmente nesta ordem: membros inferiores, braços, tronco, cabeça e pescoço. A intensidade
pode variar desde fraqueza leve, que sequer motiva a busca por atendimento médico em nível primário8, até
tetraplegia completa com necessidade de ventilação mecânica (VM) por paralisia da musculatura respiratória acessória. Fraqueza facial ocorre na metade dos pacientes ao longo do curso da doença. Cerca de 5%-15% dos pacientes desenvolvem oftalmoparesia e ptose. A função esfincteriana é, na maioria das vezes, preservada, enquanto a perda dos reflexos miotáticos pode preceder os sintomas sensitivos até mesmo em músculos pouco afetados. Instabilidade autonômica é um achado comum, causando eventualmente arritmias importantes1,5, mas que raramente persistem após 2 semanas7.
A doença usualmente progride por 2-4 semanas. Pelo menos 50%-75% dos pacientes atingem seu
nadir na segunda semana, 80%-92% até a terceira semana e 90%-94% até a quarta5,9. Insuficiência respiratória com necessidade de VM ocorre em até 30% dos pacientes nesta fase10. Progressão de sinais e sintomas por mais
de 8 semanas exclui o diagnóstico de SGB, sugerindo então polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica
(PDIC). Passada a fase da progressão, a doença entra num platô por vários dias ou semanas com subsequente
recuperação gradual da função motora ao longo de vários meses. Entretanto, apenas 15% dos pacientes ficarão
sem nenhum deficit residual após 2 anos do início da doença e 5%-10% permanecerão com sintomas motores ou
sensitivos incapacitantes. Pacientes com SGB apresentam taxas de mortalidade de aproximadamente 5%-7%,
geralmente resultante de insuficiência respiratória, pneumonia aspirativa, embolia pulmonar, arritmias cardíacas
e sepse hospitalar5,10.
Os fatores de risco para mau prognóstico funcional são idade acima dos 50 anos, diarreia precedente,
início abrupto de fraqueza grave (menos de 7 dias), necessidade de VM e amplitude do potencial da neurocondução
motora inferior a 20% do limite normal5,11-13. O prognóstico motor é melhor nas crianças, pois necessitam menos
de suporte ventilatório e recuperam-se com maior rapidez5. Recorrência do episódio pode ser observada em até
3% dos casos, não havendo relação com a forma de tratamento utilizada na fase aguda, como se acreditava14.
3 Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à
saúde (CID -10)
• G61.0 Síndrome de Guillain-Barré
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da SGB é primariamente clínico. No entanto, exames complementares são necessários
para confirmar a impressão clínica e excluir outras causas de paraparesia flácida.
Diagnóstico Clínico
Os pacientes com SGB devem obrigatoriamente apresentar graus inequívocos de fraqueza em mais de
um segmento apendicular de forma simétrica, incluindo musculatura craniana. Os reflexos miotáticos distais não podem estar normais. A progressão dos sinais e sintomas é de suma importância, não podendo ultrapassar 8 semanas; a recuperação ocorre em 2-4 semanas após a fase de platô. Febre e disfunção sensitiva são achados pouco frequentes, devendo levantar suspeita de uma etiologia alternativa, de causa provavelmente infecciosa.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Análise do líquido cefalorraquidiano
Elevação da proteinorraquia acompanhada por poucas células mononucleares é o achado laboratorial
característico, evidente em até 80% dos pacientes após a segunda semana. Entretanto, na primeira semana, a proteinorraquia pode ser normal em até 1/3 dos pacientes. Caso o número de linfócitos no líquido cefalorraquidiano (LCR) exceda 10 células/mm3, deve-se suspeitar de outras causas de polineuropatia, tais como sarcoidose, doença de Lyme ou infecção pelo vírus HIV2.
Diagnóstico eletrofisiológico
SGB é um processo dinâmico com taxa de progressão variável2. O ideal seria examinar o paciente após
a primeira semana do início dos sintomas quando as alterações eletrofisiológicas são mais evidentes e melhor
estabelecidas. É importante salientar que a ausência de achados eletrofisiológicos neste período não exclui a
hipótese de SGB. No entanto, a exploração eletrofisiológica faz-se necessária para a exclusão de outras doenças neuromusculares causadoras de paraparesia flácida aguda.
Na neurocondução motora, os marcos eletrofisiológicos de desmielinização incluem latências distais
prolongadas, lentificação de velocidade de condução, dispersão temporal, bloqueio de condução e latências da onda-F prolongadas, todos estes parâmetros geralmente simétricos e multifocais. Há controvérsias a respeito da precocidade dos achados eletrofisiológicos. Alguns autores sugerem que o bloqueio de condução seja a alteração mais precoce15, enquanto outros relatam que as latências motoras distais prolongadas e o prolongamento ou ausência da onda-F e da onda-H são os achados mais precoces16,17.
Na neurocondução sensitiva, cerca de 40%-60% dos pacientes demonstrarão anormalidades tanto na
velocidade de condução quanto na amplitude (mais frequente) de vários potenciais de neurocondução sensitiva; tais achados podem estar ausentes durante as primeiras semanas da doença18. Podem se passar até 4-6 semanas para que alterações destes potenciais sejam facilmente detectadas19.
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS11
Existem vários critérios propostos para a definição do diagnóstico de SGB, sendo exigidas todas as condições abaixo:
• presença de 2 critérios essenciais;
• presença de pelo menos 3 critérios clínicos sugestivos de SGB;
• não apresentar mais de 1 situação que reduza a possibilidade de SGB;
• não apresentar nenhuma situação que exclua o diagnóstico de SGB;
• caso apresente 1 achado que reduza a possibilidade de SGB, deve ter LCR e estudo neurofisiológico compatíveis com a doença e investigação adicional criteriosa com intuito de afastar outras etiologias. Nestas situações, o paciente deve ser avaliado por consultor médico especialista em doenças neuromusculares.
Abaixo, estão indicados critérios essenciais, que sugerem, reduzem ou excluem o diagnóstico da SGB, bem como uma escala de gravidade.
Critérios essenciais para o diagnóstico da SGB
• Fraqueza progressiva de mais de um membro ou de músculos cranianos de graus variáveis, desde paresia leve até plegia
• Hiporreflexia e arreflexia distal com graus variáveis de hiporreflexia proximal
Critérios sugestivos para o diagnóstico da SGB
Clínicos
• Progressão dos sintomas ao longo de 4 semanas
• Demonstração de relativa simetria da paresia de membros
• Sinais sensitivos leves a moderados
• Envolvimento de nervos cranianos, especialmente fraqueza bilateral dos músculos faciais
• Dor
• Disfunção autonômica
• Ausência de febre no início do quadro
Análise do líquor
• Alta concentração de proteína
• Presença de menos de 10 células/mm3
Estudo eletrofisiológico típico5,11 (São necessários 3 dos 4 critérios abaixo)*
• Redução da velocidade de condução motora em 2 ou mais nervos
• Bloqueio de condução do potencial na neurocondução motora ou dispersão temporal
anormal em 1 ou mais nervos
• Prolongamento da latência motora distal em 2 ou mais nervos
• Prolongamento de latência da onda-F ou ausência da mesma
(*Geralmente ausentes antes de 5-7 dias, podendo não revelar anormalidades em até
15%-20% dos casos após este período.)
Critérios que reduzem a possibilidade da SGB
• Fraqueza assimétrica
• Disfunção intestinal e de bexiga no início do quadro
• Ausência de resolução de sintomas intestinais/urinários
• Presença de mais de 50 células/mm3 na análise do líquido cefalorraquidiano
• Presença de células polimorfonucleares no LCR
• Nível sensitivo bem demarcado
Critérios que excluem a possibilidade da SGB
• História de exposição a hexacarbono, presente em solventes, tintas, pesticidas ou metais pesados
• Achados sugestivos de metabolismo anormal da porfirina
• História recente de difteria
• Suspeita clínica de intoxicação por chumbo (ou outros metais pesados)
• Síndrome sensitiva pura (ausência de sinais motores)
• Diagnóstico de botulismo, miastenia gravis, poliomielite, neuropatia tóxica, paralisia conversiva
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL9
SGB é uma das causas mais frequentes de polineuropatia aguda vista nos hospitais gerais, entretanto
várias outras condições neurológicas devem ser distinguidas da SGB. O dilema imediato é diferenciar SGB de uma doença medular aguda (“segundo versus primeiro neurônio”). Confusão pode ocorrer nas lesões medulares agudas em que os reflexos são inicialmente abolidos (choque espinhal). Nestas situações, outros sinais devem ser buscados. Ausência de nível sensitivo bem definido ao exame físico neurológico, envolvimento da musculatura facial e respiratória acessória e padrão parestésico em bota e luva relatado espontaneamente pelo paciente, com relativa preservação da sensibilidade distal, falam a favor da SGB. Perda do controle esfincteriano, disfunção autonômica e dor lombar podem ocorrer em ambos os casos, embora predominem nas mielopatias. Paralisia predominantemente motora é também característica da poliomielite ou de outras mielites infecciosas. Febre, sinais meníngeos, pleocitose liquórica e distribuição assimétrica da fraqueza costumam coexistir nestes casos.
Outras causas importantes de polineuropatia aguda que devem sempre ser incluídas no diagnóstico
diferencial da SGB são: infecciosas (HIV, doença de Lyme, difteria), paraneoplásicas (principalmente carcinoma brônquico de pulmão), autoimunes (doenças do colágeno, vasculites primárias), tóxicas (história exposicional a amiodarona, cloroquina, organofosforados e metais pesados, entre outros agentes) e metabólicas (porfiria). A polineuropatia deve ser diferenciada da SGB por seu tempo de progressão motora superior a 8 semanas.
Ptose e fraqueza oculomotora podem causar confusão com miastenia gravis. No entanto, nesta situação,
não há padrão ascendente de perda de força e os reflexos miotáticos são usualmente preservados.
Por fim, nos pacientes criticamente enfermos, uma variedade de distúrbios neuromusculares
(polineuromiopatia) pode existir e eles devem ser distinguidos da SGB. Dentre eles incluem-se polineuropatia ou miopatia do paciente crítico, neuropatia rapidamente progressiva em pacientes com insuficiência renal em diálise peritoneal, hipofosfatemia aguda induzida por hiperalimentação, miopatia por glicocorticoide e efeitos prolongados de bloqueadores musculares. Nestes casos, o estudo eletrofisiológico e do LCR é de grande auxílio na definição de doença desmielinizante.
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Serão incluídos neste protocolo de tratamento os pacientes que:
• preencherem os critérios diagnósticos, incluindo as formas variantes da SGB, avaliados por médico
especialista em Neurologia através de laudo detalhado;
• apresentarem doença moderada-grave (Escala de Incapacidade) e menos de 4 semanas de evolução.
CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Serão excluídos deste protocolo de tratamento os pacientes com mais de 30 dias de evolução da
doença, com insuficiência renal ou que apresentarem contraindicações ou efeitos adversos não toleráveis à
imunoglobulina intravenosa, tais como presença de níveis altos de IgA e infecção ativa.
CASOS ESPECIAIS
SGB EM CRIANÇAS
Os achados clínicos, laboratoriais e eletrofisiológicos em crianças com SGB são similares aos
encontrados em adultos. No entanto, na população pediátrica, a prevalência de infecção precedente é de 75% e a queixa principal mais frequente é dor. A maioria das crianças com SGB tem recuperação satisfatória, mesmo com redução significativa da amplitude do potencial de neurocondução motora20. Embora a posologia mais usada da imunoglobulina intravenosa (IGIV) seja de 0,4 g/kg por 5 dias, em um estudo envolvendo 50 crianças, não foi observada diferença de desfechos quando a IGIV foi aplicada por 2 dias em comparação com 5 dias21. Desta forma, o tempo de uso da IGIV em crianças não deve ultrapassar 2 dias.
NEUROPATIA AXONAL SENSITIVO-MOTORA AGUDA (NASMA)
Primeiramente descrita como uma variante axonal da SGB2, do ponto de vista clínico e
eletrofisiológico inicial é indistinguível da SGB. Da mesma forma que a SGB, a doença inicia com
anormalidades sensitivas subjetivas nas extremidades e evolução mais rápida (poucos dias) da fraqueza
generalizada, sendo necessária VM para a maioria dos pacientes. O prognóstico da NASMA é pior do
que o da SGB e a maioria dos casos exibe recuperação motora lenta e incompleta22. Em adição ao
padrão liquórico usual de hiperproteinorraquia sem pleocitose, também visto em pacientes com SGB,
há evidência de infecção recente por Campylobacter jejuni e presença de anticorpos antigangliosídeos,
particularmente anti-GM1. Embora não existam ensaios clínicos randomizados e controlados específicos
para esta variante, e devido à impossibilidade de diferenciação clínica (e eletrofisiológica, pelo menos
na fase inicial) entre NASMA e SGB, ambas as situações são tratadas de forma semelhante9.
NEUROPATIA AXONAL MOTORA AGUDA (NAMA)
É outra variante axonal da SGB, caracterizada por início abrupto de fraqueza generalizada,
com músculos distais mais gravemente afetados do que os proximais. Deficit de nervos cranianos e
insuficiência respiratória exigindo VM estão presentes em 33% dos casos. Ao contrário da SGB e da
NASMA, sintomas sensitivos estão ausentes, e os reflexos tendinosos podem ser normais. Anticorpos
anti-GM1 e anti-GD1 são comumente detectados, em geral associados com infecção recente por
Campylobacter jejuni23,24. Os pacientes com NAMA costumam apresentam boa recuperação dentro
do primeiro ano, mas fraqueza distal residual é comum. Não existem ensaios clínicos específicos
avaliando a eficácia da imunoglobulina ou da plasmaférese para NAMA. No entanto, é provável que
esta entidade esteja incluída em alguns ensaios para SGB comparando estas duas modalidade
terapêuticas, como evidenciado posteriormente na análise criteriosa dos pacientes selecionados para o
estudo do Dutch GBS Trial25. No estudo, 18% dos pacientes inicialmente identificados como portadores
de SGB apresentavam na realidade NAMA, havendo recuperação mais rápida com a administração de
imunoglobulina isolada, sendo, portanto, uma prática justificada nestes casos.
SÍNDROME DE MILLER-FISHER
É uma variante da SGB, caracterizada pela tríade ataxia, arreflexia a oftalmoplegia. Diplopia é
a queixa inicial mais frequente (39%-78%), seguida por ataxia (21%-34%) de etiologia provavelmente
sensitiva. Paresia de outros nervos cranianos, especialmente do sétimo, pode ocorrer. Fraqueza
apendicular proximal pode ser demonstrada ao longo do curso da doença em aproximadamente 1/3
dos casos, podendo haver progressão para fraqueza generalizada mais grave de forma semelhante à
vista na SGB2. Em termos de achados eletrofisiológicos, diferentemente das outras variantes da SGB,
a anormalidade mais frequente é a redução das amplitudes do potencial de neurocondução sensitiva
fora de proporção ao prolongamento das latências distais ou lentificação das velocidades de condução
sensitiva26. A recuperação em geral se dá após 2 semanas do início dos sintomas, com evolução
favorável após 3-5 meses. Da mesma forma que nas outras variantes da SGB, há evidência sorológica
de infecção recente por Campylobacter jejuni, bem como presença de anticorpos antigangliosídeos,
particularmente anti-GQ1b27. Não existem ensaios clínicos randomizados e controlados de pacientes
com esta síndrome. Embora a síndrome de Miller-Fisher seja autolimitada27, alguns pacientes podem
evoluir para insuficiência respiratória28. Assim, parece prudente tratar os pacientes com imunoglobulina
ou plasmaférese2 desde que respeitadas as condições previstas no item Critérios de Inclusão.
DETERIORAÇÃO PROGRESSIVA APESAR DO TRATAMENTO IMUNOMODULADOR
Alguns pacientes com SGB continuam piorando depois do tratamento com IGIV ou
plasmaférese29. Nestes casos, não se sabe qual a melhor opção: esperar ou iniciar tratamento adicional.
Um estudo de série de casos investigou o efeito de um segundo curso de IGIV em pacientes com SGB
grave e refratária, sugerindo benefício nestes casos30. Assim, o presente protocolo recomenda uma
segunda realização de IGIV nos casos inicialmente refratários.
TRATAMENTO
Existem dois tipos de tratamento para SGB: (1) antecipação e manejo das comorbidades associadas; (2)
tratamento da progressão dos sinais e sintomas visando menor tempo de recuperação e minimização de deficit motor. Não há necessidade de tratamento de manutenção fora da fase aguda da doença.
Assim, pacientes com SGB necessitam ser inicialmente admitidos no hospital para observação rigorosa.
Melhores cuidados são obtidos em centros terciários, com facilidades de cuidados intensivos e uma equipe de profissionais que estejam familiarizados com as necessidades especiais destes pacientes10. Vigilância estrita e antecipação das potenciais complicações são necessárias para a otimização das chances de um desfecho favorável. Áreas de atenção incluem prevenção de fenômenos tromboembólicos, monitorização cardíaca, avaliações seriadas de reserva ventilatória e de fraqueza orofaríngea, proteção de vias aéreas, manejo apropriado da função intestinal e da dor, nutrição e suporte psicológico adequados. A fisioterapia motora deve ser iniciada nesta fase com intuito de auxiliar na mobilização precoce31. Desde a introdução dos tratamentos imunomoduladores não houve mudança na taxa de mortalidade7.
O tratamento específico da SGB visa primordialmente acelerar o processo de recuperação, diminuindo
as complicações associadas à fase aguda e os deficit neurológicos residuais a longo prazo6. Para a correta
indicação do tratamento, faz-se necessária a determinação da gravidade clínica proposta por Hughes e cols.32, sendo considerada doença leve de 0-2 e moderada-grave de 3-6:
0 - Saudável
1 - Sinais e sintomas menores de neuropatia, mas capaz de realizar tarefas manuais
2 - Apto a caminhar sem auxílio da bengala, mas incapaz de realizar tarefas manuais
3 - Capaz de caminhar somente com bengala ou suporte
4 - Confinado a cama ou cadeira de rodas
5 - Necessita de ventilação assistida
6 - Morte
Glicocorticoides
Não está indicado uso de glicocorticoides. Apenas dois ensaios clínicos randomizados e controlados
por placebo avaliaram adequadamente desfechos de interesse nos pacientes com SGB, tais como melhora
no grau de incapacidade, tempo de recuperação, mortalidade e efeitos adversos32,33. Nestes estudos, não foi encontrada superioridade estatisticamente significativa da metilprednisolona intravenosa ou da prednisolona oral sobre o placebo, discordando de alguns achados anteriormente demonstrados em modelos animais34. Assim, baseado na literatura disponível até o momento, o uso de glicocorticoide no tratamento da SGB não pode ser recomendado35.
Imunoglobulina humana
A imunoglobulina humana intravenosa (IGIV) tem sido o tratamento de escolha na maioria dos países,
apesar de o mecanismo de ação ser pouco compreendido31. Sua eficácia a curto e longo prazos é similar à
da plasmaférese, evitando complicações inerentes à segunda modalidade (hipotensão, necessidade de cateter venoso, trombofilia). Existem três grandes ensaios clínicos randomizados e controlados que avaliaram a eficácia da IGIV em comparação com plasmaférese, sob vários desfechos clínicos12,25,36. Na análise global dos mesmos, observou-se que ambas as modalidades apresentaram eficácia similar na aceleração da recuperação motora em pacientes com SGB grave (escala 3-6) quando utilizadas nas primeiras 2 semanas após o início dos sintomas. Não existem evidências de que a IGIV seja benéfica nos casos de SGB de grau leve (0-2) e após a quarta semana6,7. Também não há evidência de benefício com associação de plasmaférese e IGIV12, achado corroborado por 2 outras revisões8,37. Em função da falta de padronização de parâmetros de administração da plasmaférese, a incidência de efeitos adversos não pode ser adequadamente aferida, embora pareça ser mais frequente no grupo da plasmaférese. A facilidade de uso foi significativamente superior nos grupos da IGIV em função da via de administração e da necessidade de equipamento e profissionais devidamente habilitados para realização de plasmaférese37. Desta forma, o uso de IGIV é recomendado para todos os pacientes com critérios diagnósticos estabelecidos de SGB em estágio moderado-grave no período de 2-3 semanas após o início dos sintomas, sendo sua administração efetiva dependente da disponibilidade do fármaco e da experiência do centro de atendimento terciário envolvido.
Plasmaférese
Quatro ensaios clínicos randomizados e comparados com tratamento de suporte demonstraram
benefícios inequívocos da plasmaférese em pacientes com SGB (moderada-grave de 3-6),
particularmente se realizada dentro de 7 dias após o início dos sintomas. A recuperação da capacidade
de deambular com ou sem ajuda após 4 semanas foi o principal desfecho avaliado38-41, sendo que 2
estudos evidenciaram benefícios sustentados após 12 meses38,42. Adicionalmente, a combinação de
achados de todos estes estudos (totalizando 604 pacientes) demonstrou que a plasmaférese também
diminuiu tempo de VM, risco de infecções graves, instabilidade cardiovascular e arritmias cardíacas
em relação a tratamento de suporte6. O papel da plasmaférese em crianças com menos de 12 anos de
idade e após 30 dias do início dos sintomas permanece incerto6,21. Em adultos o uso da plasmaférese
dependerá da disponibilidade do método e da experiência do centro de atendimento terciário envolvido.
O esquema de utilização prevê, para casos leves, 2 sessões; para casos moderado-graves (escala de
3-6)6,40,41, o volume de plasma removido por sessão deve ser de 200-250 ml/kg a cada 48 horas25,36.
Outras modalidades terapêuticas
Foram testados através de ensaios clínicos randomizados poliglicosídio versus dexametasona43,
filtragem do líquor versus plasmaférese44 e outros tratamentos adjuvantes à IGIV, tais como fator
neurotrófico cerebral45 ou betainterferon46, comparados com placebo. Nenhum dos ensaios foi
suficientemente grande para detectar mínimos efeitos benéficos.
FÁRMA CO
Imunoglobulina humana: frascos-ampola de 0,5; 1,0; 2,5, 3,0; 5,0 e 6,0 g
ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO
Imunoglobulina humana: 0,4 g/kg/dia, por via intravenosa
TEMPO DE TRATAMENTO – CRITÉRIOS DE INTERRUPÇÃO
A imunoglobulina humana deve ser administrada por 5 dias e interrompida caso haja qualquer
evidência de perda da função renal e anafilaxia.
BENEFÍCIOS ESPERADOS
• Diminuição do tempo de recuperação da capacidade de deambular com ajuda e sem ajuda
• Diminuição do número de pacientes com complicações associadas que necessitam de VM
• Diminuição do tempo de VM
• Aumento na porcentagem de pacientes com recuperação total da força muscular em 1 ano
e diminuição da mortalidade em 1 ano
MONITORIZAÇÃO
Devem ser realizados avaliação prévia da função renal, especialmente em pacientes diabéticos,
hidratação prévia, controle de sinais clínicos para anafilaxia e efeitos adversos, tais como dor moderada
no peito, no quadril ou nas costas, náuseas e vômitos, calafrios, febre, mal-estar, fadiga, sensação de
fraqueza ou leve tontura, cefaleia, urticária, eritema, tensão do tórax e dispneia.
ACOMPANHAMENTO PÓS-TRATAMENTO
Os pacientes devem ser reavaliados 1 semana e 1 ano após a administração do tratamento,
através da Escala de Gravidade Clínica na SGB.
REGULAÇÃO/CONTROLE/AVALIAÇÃO PELO GESTOR
Alerta-se ao gestor para organizar-se no sentido de evitar o fornecimento concomitante
da imunoglobulina humana pela Autorização de Internação Hospitalar (AIH/SIH) e Autorização de
Procedimentos de Alta Complexidade (APAC/SIA).
TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE – TER
É obrigatória a informação ao paciente ou a seu responsável legal dos potenciais riscos, benefícios e
efeitos adversos relacionados ao uso do medicamento preconizado neste Protocolo, o que deverá ser formalizado por meio da assinatura de Termo de Esclarecimento e Responsabilidade.
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Fluxograma de Dispensação de Imunoglobulina Humana Síndrome de Guillain-Barré
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