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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Princípios de Prevenção de lesões em Desporto


Apesar da expressão comum em desporto de que “a lesão faz parte do jogo” (Chalmers, 2002) ela é, um problema complexo de origem multifactorial resultante de interacções várias entre factores de origens diversas de que são exemplo factores fisiológicos, psicológicos, ambientais e do próprio acaso (Gleim e McHugh, 1997). Por essa razão, a lesão desportiva exige uma abordagem multidisciplinar no sentido de encontrar e implementar soluções efectivas para a redução da sua ocorrência (Whiting e Zernicke, 1998).
Aliás parece ser essa atitude que se tem desenvolvido nos últimos anos, avaliando pelo crescente aumento do número de estudos que nesta área se têm vindo a realizar. De acordo com o modelo desenvolvido para o desporto por Van Mechelen (1992a) os programas de prevenção compreendem quatro fases distintas mas fortemente interligadas, que devem permitir a identificação e descrição da extensão das lesões desportivas e das suas consequências bem como dos mecanismos de lesão, para que seja possível introduzir medidas que possam reduzir de forma eficaz o risco futuro ou a severidade das lesões desportivas. A última etapa corresponde necessariamente à imprescindível reavaliação de todo o processo no sentido de verificar a eficácia das medidas introduzidas. Estas medidas deverão ter por base o trabalho previamente realizado de identificação de mecanismos e etiologias das lesões, pois só dessa forma serão fundamentadas e poderão conduzir a resultados positivos na prevenção das lesões.
De forma genérica a prevenção e as medidas preventivas que podem ser tomadas a
propósito das lesões desportivas dividem-se em dois níveis: aquelas que procuram evitar a ocorrência da lesão (prevenção primária), e as que depois da lesão ter ocorrido, procuram minimizar as suas consequências contribuindo para a rápida recuperação do indivíduo lesionado e evitar a sua recorrência (prevenção secundária) (Weaver e col., 2002). As estratégias preventivas do primeiro nível são definidas depois de terem sido identificados factores de risco relativos à actividade desportiva, às capacidades morfo-funcionais do atleta e/ou ao modo como este realiza a actividade. A identificação dos factores de risco é feita através da análise cinesiológica da actividade desportiva (componentes anatómicas e mecânicas implicadas), através da avaliação funcional do atleta (análise morfo-funcional do atleta em função do seu estado de desenvolvimento biológico e das necessidades requeridas pela actividade desportiva) e ainda pela análise epidemiológica que procura conhecer como e porque acontecem as lesões. Para Chalmers (Chalmers, 2002) o verdadeiro desafio consiste neste nível de prevenção, ou seja evitar a primeira ocorrência de lesão. Powell e Barber–Foss (2000b) defendem ainda que para implementar melhores programas de prevenção devem ser usados os resultados de investigações que combinem as variações anatomo-fisiológicas entre os dois sexos e integrem essa informação com outros riscos internos, dos praticantes e externos, do desporto específico.
Embora não seja possível evitar totalmente a ocorrência de lesões em desporto, têm sido utilizadas várias estratégias no sentido de as reduzir e atenuar igualmente a sua gravidade e as consequências nefastas para os atletas e para o seu envolvimento desportivo e social. A avaliação dos resultados obtidos por via dessas estratégias preventivas está no entanto, ainda numa fase inicial, o que aliás é ilustrado pelo facto de apenas no ano de 2005 decorrer o primeiro congresso mundial sobre prevenção de lesões desportivas.
Segundo Brukner (1993) algumas das medidas que podem contribuir para a prevenção de lesões são o aquecimento prévio à actividade desportiva, o desenvolvimento de flexibilidade, a utilização de material de protecção adequado onde se incluem as ortóteses e ligaduras funcionais e, a análise e aplicação dos princípios biomecânicos ao treino, o treino adequado, a inexistência prévia de lesões e todo o envolvimento psicológico e nutricional dos atletas. Outros autores referem ainda como aspectos fundamentais na prevenção de lesões desportivas o treino de força (Petersen e Holmich, 2005; Holm e col., 2004) e o treino proprioceptivo (Dante e Valmor, 2005; Cerulli e col., 2001; Soderman e col., 2000).
O aquecimento prepara o corpo para o exercício aumentando a saída energética e a temperatura corporal. A sua estrutura dependerá do tipo de actividade a realizar. Para Kannus e Natri (1997) o aquecimento tem duas funções essenciais: prevenir lesões e melhorar a performance. A flexibilidade parece fazer diminuir a incidência de lesões músculo-tendinosas para além de permitir que o movimento decorra em toda a amplitude disponível nas articulações de uma forma harmoniosa (Welch e col., 1995). Por outro lado, a utilização de ligaduras funcionais e ortóteses com o objectivo de restringir ou modificar movimentos que possam ser causadores de lesões tem-se tornado uma forma muito comum de prevenção (Davis, 2004; Parkkari e col., 2001). O mesmo acontece com a utilização de equipamento de protecção de que são exemplo as caneleiras e protecções dentárias (Rampton e col., 1997). A utilização de equipamento adequado, de que é exemplo o calçado desportivo, poderá significar a diferença na ocorrência de lesões (Stacoff, 2000; Barrett e Bilisko, 1995; Barrett e col., 1993). De igual modo, a superfície de prática desportiva deverá ser adequada à modalidade em causa e ao tipo de esforço requerido (Stacoff, 2000; Barrett e Bilisko, 1995; Barrett e col., 1993).
A análise biomecânica contribui para a execução harmoniosa do movimento, permitindo que o movimento executado pelo atleta possa ser corrigido e optimizado. Dessa forma, é possivel obter a máxima eficácia do movimento e assim, fazer diminuir o risco de ocorrência de lesão (Subotnick, 1985). O treino apropriado tendo em conta a resistência máxima das várias estruturas envolvidas na actividade permite o equilíbrio entre quantidade e qualidade de performance de forma a maximizá-la e, pressupõe a periodização, especificidade, sobrecarga e individualidade, aspectos que deverão estar presentes na planificação do treino efectuada pelo treinador (Ekstrand, 1982). A pré existência de lesão é um dos factores mais frequentemente apontados como causador de lesão em desporto (Walther e col., 2005). Por essa razão, a recuperação adequada das lesões é considerada de fulcral importância, assim como o controlo do retorno à prática desportiva (Bahr e Krosshaug, 2005). A tensão emocional que envolve o fenómeno desportivo contribui para ocorrência de lesões pelo desequilíbrio que provoca ao nível da tensão muscular, do mesmo modo que na diminuição da concentração. Neste sentido o trabalho psicológico dos atletas surge também como uma forma de prevenir a ocorrência das lesões. Um outro aspecto a ter em conta quando se pretendem prevenir lesões em desporto é a nutrição (Armsey e Hosey, 2004), tanto pela sua relação directa com as cargas a que o atleta é submetido como, especialmente em desportos em que se classifica o atleta com base no peso, pela forma como a nutrição é abordada.
Uma estratégia de prevenção que tem sido desenvolvida nos últimos anos é o arrefecimento pós esforço que permite um retorno gradual a um nível de metabolismo próximo do normal, facilitando desse modo a mais rápida recuperação (Coulon e col., 2001).
A diminuição progressiva do exercício parece favorecer a remoção dos produtos resultantes da contracção muscular (Wigernaes e col., 2001), nomeadamente o ácido láctico,diminuindo a rigidez muscular pós exercício e favorecendo assim a recuperação física do atleta (Brukner e Khan, 1993). Para além disso, quando o exercício termina de forma abrupta, as alterações na pré-carga a que o sistema cardiovascular se sujeita podem trazer complicações já que uma parte significativa de sangue se mantém nos membros inferiores podendo fazer reduzir o aporte sanguíneo a órgãos vitais.
Permanece alguma controvérsia relativamente ao efeito da flexibilidade na prevençãode lesões desportivas mas alguns autores (Witvrouw e col., 2004; Watson, 2001), encontraram uma associação significativa de risco de lesão em indivíduos com menos flexibilidade. Já a diminuição da amplitude disponível na articulação parece influenciar a maior ocorrência de lesão (Willems e col., 2005a) o que poderá estar relacionado com a flexibilidade na medida em que, uma menor flexibilidade implica uma menor amplitude articular.
A ocorrência de lesões durante a prática desportiva é uma realidade. Embora o desporto apresente uma perspectiva teórico–filosófica cujos princípios visam, um desenvolvimento harmonioso, global e salutar do atleta, a realidade mostra-nos como esses princípios são ultrapassados, atingindo-se por vezes, principalmente ao nível da alta competição, limites perigosos para a saúde do praticante devendo por isso, ser dada maior ênfase à prevenção.


Autora: Maria Antonio Castro.

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